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Órfãos das queimadas no Pantanal, tamanduás são soltos em habitat após longa reabilitação

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Quase três anos após as queimadas que devastaram cerca de 26% do Pantanal e afetaram mais 4 bilhões de animais, órfãos do fogo, como os tamanduás-bandeiras Cecília e Darlan, retornam ao habitat natural na expectativa de repovoar o bioma que se reergue com resiliência. O g1 teve acesso exclusivo a imagens que mostram o momento da soltura dos mamíferos.

Cecília foi resgatada em agosto de 2021, pendurada ao corpo da mãe morta após um atropelamento enquanto fugiam na busca por território no Pantanal. A tamanduá se tornou símbolo na reconstrução e possibilidade de reintrodução de espécies da fauna pantaneira no habitat natural.

Ao todo foram 16 meses de acompanhamentos a Cecília e Darlan, feitos pelas Organizações Não Governamentais Proteção Animal Mundial e o Projeto Órfãos do Fogo.

Para chegar até ao momento da soltura dos animais, investimentos, trabalho responsável e especializado, acompanhamento próximo foram colocados em prática. Darlan e Cecília chegaram ainda filhotes ao Projeto Órfãos do Fogo, após a aplicação financeira da ONG Proteção Animal Mundial, a atuação pode ser intensificada.

“Quando começamos a monitorar os incêndios, começamos a entrar em contato com entidades locais que trabalham com esses resgates. Encontramos o projeto Órfãos do Fogo. É um projeto liderado pelo Instituto Tamanduá. No projeto, nós encontramos a história da Cecília, ela foi encontrada na rodovia, do lado da mãe morta. Uma vítima do fogo. Não são todos os animais que morrem queimados”, explica o representante da Proteção Animal Mundial, Roberto Vieto.

De volta ao Pantanal

O momento exato para a soltura foi escolhido pensando no comportamento dos animais. Assim que o sol se pôs, Cecília e Darlan já estavam prontos para voltar ao grande Pantanal sul-mato-grossense. Até que a grade do recinto de contenção fosse aberta, uma verdadeira força-tarefa foi mobilizada.

“Na soltura houve a necessidade de uma atendimento médico prévio, colocar o radio-colete, equipamento que permitirá o monitoramento por dois anos, até a soltura. Foi um momento emocionante, no fim da tarde, e realmente foi bem rápido. Cecília conseguiu avançar 3 km da área de soltura, o que coloca ela em uma característica exploratória”, relembra entusiasmado Vieto.

O representante da ONG Proteção Animal Mundial comenta que Cecília tinha um comportamento brincalhão, gentil e vergonhoso no recinto controlado. Tanto, que se ganhou da primeira edição do prêmio de Personalidade Silvestre Única.

Cecília tem um pouco mais de um ano. — Foto: Reprodução/WorldAnimalProtection
Cecília tem um pouco mais de um ano. — Foto: Reprodução/WorldAnimalProtection

Já Darlan, era o tamanduá mais evasivo e exploratório. Entretanto, após a soltura, Cecília foi quem andou mais para reconhecer o novo habitat. “Assim que os dois saíram, passamos a acompanhar pelos coletes. O Darlan era mais evasivo, exploratório e desinibido, e ficou perto do recinto. A Cecília era o contrário, mas foi explorar logo”.

Cecília e Darlan serão monitorados com o auxílio de rádio-colar por dois anos. Dessa forma, as equipes conseguirão avaliar o sucesso da reabilitação e se a fêmea procriou. Além de olhar para o indivíduo, o equipamento serve como instrumento de pesquisa, ajudando a entender os comportamentos naturais e deslocamento em vida livre.

“No futuro, com a Cecília e Darlan temos mais dois anos de monitoramento. Por outro lado, vamos continuar com uma campanha forte de conscientização. As nossas escolhas, nossos consumos, podem gerar um prejuízo grande para o nosso meio ambiente. Devemos fazer um consumo consciente”, alerta Vieto.

Animais passaram por processo de reabilitação antes de serem soltos.  — Foto: Proteção Animal Mundial/Reprodução
Animais passaram por processo de reabilitação antes de serem soltos. — Foto: Proteção Animal Mundial/Reprodução

Foi um longo período e cheio de novidades até que Cecília e Darlan retornassem ao Pantanal. Todo o processo de reabilitação foi feito em um base montada pelo Programa Órfãos do Fogo e custeados pela Proteção Animal Mundial.

“Foram vários filhotes que chegaram ao recinto. Ao todo, 50 filhotes de tamanduás-bandeiras foram resgatados vítimas do fogo em 2021 pelo projeto. A questão da reabilitação é uma parte muito importante. Neste momento monitoramos a alimentação e estimulamos os animais aos comportamentos naturais”, detalha Vieto.

Biólogos, especialistas na vida silvestre, foram responsáveis por acompanhar os passos de Cecília e Darlan. Em um primeiro estágio, o contato humano com os animais era mais frequente e próximo. Conforme a recuperação avançou, os métodos de reabilitação foram remodelados.

“O time de biólogos que faz parte do instituto estava encarregado de fazer este monitoramento de estimular comportamentos naturais dos tamanduás-bandeiras. Depois de um tempo, os animais foram ativados para forragear, explorar território, procurar alimentos e avançar na vida natural”.

O estímulo dos animais com a própria espécie também foi importante e destacado nos processos de reabilitação de Cecília e Darlan. Conforme os estágios avançavam, o vínculo humano desaparecia.

“Mesmo nas primeiras etapas precisando de um manejo mais próximo dos animais, por exemplo com os filhotes que às vezes mamam na mamadeira, chega um momento onde queremos estimular a interação de indivíduos da própria espécie. Não queremos o vínculo com as pessoas, humanos, queremos o contato com outros tamanduás. Próximo ao período da soltura, os tamanduás passam por um recinto de imersão, onde simulam as características do habitat natural, sejam as boas e as ruins. Isso tudo é um processo”, comenta Vieto.

O ambientalista é categórico e diz que o retorno de Cecília e Darlan ao habitat natural deixa um recado muito importante para a população: o da preservação. “Foi um esforço de conservação muito grande feito entre a parceria. O tamanduá bandeira é uma espécie ameaçada de extinção. Esse esforço de voltar a natureza é super importante para manter uma população saudável no Pantanal Sul”.

 

Fonte:G1

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