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Fogo em 2022 deixou de queimar área de 2 milhões de campos de futebol no Pantanal

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Os incêndios florestais no Pantanal tiveram uma queda acentuada de registros e, em 2022, uma área que corresponde a cerca de 2 milhões de campos de futebol não pegou fogo.

Desde 2020, organizações privadas e públicas agem para construir conhecimento e práticas para evitar o fogo descontrolado no bioma.

Restrições no manejo com a utilização do fogo também foram implantadas, principalmente em Mato Grosso do Sul, onde o Pantanal concentra cerca de 70% de seu território.

As identificações dessa redução do fogo foram mapeadas pelo MapBiomas, no sistema chamado Monitor do Fogo.

Nos dados que vão de janeiro a dezembro de 2022, os locais onde houve incêndios estão concentrados no município de Corumbá, mas em uma área que fica limítrofe com a Bolívia e que foi influenciada por registros no país vizinho, com chamas que atravessaram a fronteira.

Outra região corresponde a território que fica entre os rios Miranda e Aquidauana, nas proximidades do Buraco das Piranhas.

Ainda houve uma concentração de fogo, mas em menor grau que nas outras regiões, no Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense, que fica entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, perto da Serra do Amolar.

Esse território é gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e é o único no Pantanal com áreas públicas.

LEVANTAMENTO

A área total queimada identificada no Monitor do Fogo foi de 194.056 hectares em 2022. O número é 88% menor do que o registrado em 2021, quando foram queimados 1.357.538 hectares.

Nesse estudo, o ano de 2020 segue como o mais devastador, com 2.341.075 hectares queimados.

O mapeamento ainda mostrou que o ano passado teve uma influência do fogo bem abaixo do que ocorreu em 2019, quando a seca no Pantanal ainda estava se iniciando. Naquele período, 1.222.823 ha foram queimados.

Esse histórico de quatro anos ainda contribui para mostrar que há reflexos dos grandes incêndios de 2020 e as cicatrizes criadas alteraram a relação do uso do fogo no bioma pantaneiro.

Essa discussão em torno dos incêndios e a situação do Pantanal voltou a ser o centro de discussões no dia 2 de fevereiro por conta da celebração do Dia Mundial das Áreas Úmidas. Conforme o SOS Pantanal, organização da sociedade civil ligada ao Observatório Pantanal, é preciso contextualizar o cenário atual com a redução de áreas alagadas e seguir um monitoramento sobre a situação climática e sua relação com o bioma.

“O Pantanal é a maior planície alagável do planeta Terra. São milhões de hectares que alagam durante as cheias, trazendo uma explosão de vida para esse bioma. Só que nas últimas décadas a água vem sumindo. Se a gente comparar o pico da cheia de 1988 com o último pico que tivemos, em 2018, a gente enxerga uma redução de 29% das áreas alagadas”.

“Foi em 2021 que o Pantanal atingiu o pico da maior seca da série histórica, redução de 76% nas áreas alagadas. Isso significa 5,6 milhões de hectares. Reafirmamos um compromisso em seguir trabalhando para que o Pantanal continue sendo a maior planície alagável do planeta Terra”, complementou a entidade, em vídeo institucional.

DANOS

Todo o Pantanal tem uma área de cerca de 195 mil quilômetros quadrados, ou em torno de 19,5 milhões de hectares. As estatísticas do fogo em 2022 apontam que nesse território houve uma conjunção de fatores para evitar danos acumulados ao que já havia ocorrido entre 2019 e 2021.

Por conta dessa redução, especialistas minimizaram os riscos no bioma e focaram as atenções para outras áreas, como Cerrado e Amazônia. Por lá, os danos seguem mais intensos.

“O Monitor do Fogo permite que possamos ir além de saber se tem mais ou menos fogo acontecendo: ele nos dá a área atingida pelo fogo e mostra o que está queimando com uma precisão de 5 metros. Com o Monitor do Fogo, podemos constatar que as florestas do Brasil, principalmente as da Amazônia, estão sendo altamente impactadas por incêndios”, esclareceu Ane Alencar, diretora de Ciência no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e coordenadora do MapBiomas Fogo.

Em 2022, um conjunto de medidas foi realizado para discutir como o fogo poderia ser utilizado como manejo no Pantanal sem trazer os riscos de incêndios.

Só em estudos de manejo e de território, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), por exemplo, investiu em torno de R$ 750 mil para obter detalhamento.

O Sebrae foi engajado nesse trabalho, que mobilizou também PrevFogo, sindicatos rurais em MS e MT, setor produtivo no bioma, Ministério Público Estadual, Bombeiros e governo de Mato Grosso do Sul.

A partir de 2021, com o decreto nº 15.654, ainda foi instituído o Plano Estadual de Manejo Integrado do Fogo (Pemif) para dar regras nesse tipo de recurso a ser usado nas propriedades rurais.

O plano chegou a ser apresentado em eventos entre Bombeiros em território amazônico, em 2022.

MONITORAMENTO

Responsável por monitoramento eletrônico de resposta a incêndios na região da serra do Amolar, território mais selvagem do Pantanal, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) aponta que, além do combate mais rápido ao fogo, medidas de prevenção estão sendo aplicadas depois de 2020.

Além de cinco câmeras com inteligência artificial para monitorar em tempo real área de 1 milhão de hectares no Pantanal e acionar equipes, o Instituto mantém a Brigada Alto Pantanal de forma permanente, o que dá suporte para ações do PrevFogo, do Ibama, que só mobiliza grupos específicos em períodos críticos.

O trabalho que a brigada do Alto Pantanal vem fazendo nesses períodos em que o fogo não é um grande problema inclui formar caminhos de fuga para animais e pessoas, construção de aceiros para reduzir o risco do fogo se propagar em áreas sensíveis, com muita vegetação seca, e realizar o plantio de mudas.

Desde 2021, foi dado início a um plantio que prevê a recuperação com 25 mil mudas em áreas afetadas pelo fogo nos anos anteriores.

“Fazemos um trabalho contínuo para garantir que o que passamos em 2020 não se repita. Ficou uma marca muito grande. Para mim, que sou pantaneiro, é mais difícil ainda recordar. Quero garantir que esse lugar aqui, que eu acho o mais bonito do Brasil, seja preservado”, apontou Manoel Garcia da Silva, coordenador da Brigada Alto Pantanal. Desde 2018 ele atua como brigadista.

Fonte:CE

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