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Aves mais fascinantes do mundo correm mais risco de extinção; veja quais são

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Os adultos da maior ave da família íbis podem crescer até quase 1 metro de comprimento, pesar mais de 4 quilos e ostentar bicos de 20 centímetros que lembram uma máscara de médico da peste veneziana.

A espécie também está severamente ameaçada desde 1994, levada à beira da extinção pela caça, perturbação do habitat e desmatamento. Hoje, restam menos de 200 membros maduros da espécie em sua área nativa no Sudeste Asiático, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza.

É provável que percamos o íbis-gigante, juntamente com outras aves bem peculiares por suas formas e tamanhos extremos, na atual crise de biodiversidade, de acordo com um estudo publicado na quinta-feira na revista Current Biology. Isso porque as atividades humanas ameaçaram ou destruíram as limitadas paisagens onde elas evoluíram para viver.

O risco de extinção, sugere o artigo, não é distribuído igual ou aleatoriamente pela árvore da vida das aves. Em vez disso, aves como o calau de Sulu (com seu bico enorme e oco), o biguá-das-chatham (com sua aparência de pinguim e um brilho metálico), a garça de barriga branca (1,20 m de altura) ou a coruja de Seychelles (15 cm) são mais propensas a enfrentar o apagamento permanente da face da Terra.

“A crise de extinção global não significa que estamos apenas perdendo espécies”, disse Emma Hughes, ecologista da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, e autora do estudo.

Nem significa que estamos perdendo apenas as aves que são mais atraentes.

“Teremos uma grande perda de estratégias e funções de vida”, acrescentou ela, referindo-se às adaptações que impulsionaram as características incomuns de muitas aves.

Para o estudo, Hughes e seus colegas analisaram um conjunto de características físicas – tamanho do corpo, dimensão e forma do bico e comprimento das pernas e asas – extraídas de 8.455 espécies de aves em coleções de museus de história natural. Eles também analisaram a diversidade filogenética, uma medida que reflete as diferenças evolutivas entre as espécies e pode capturar características como canto, propensões migratórias e estilos de alimentação.

Em seguida, eles eliminaram sequencialmente as espécies, começando pelas mais ameaçadas e avançando para as menos ameaçadas, e mediram o impacto na diversidade anatômica e filogenética ao longo do caminho. Eles descobriram que, à medida que se removem as espécies ameaçadas, as aves restantes se tornam cada vez mais parecidas, levando a uma redução ecológica na maioria dos biomas e metade de todas as regiões ecológicas, mas especialmente no leste da Ásia e no Himalaia.

O estudo lança uma nova luz sobre as previsões científicas a respeito de grandes perdas de aves, disse Eliot Miller, pesquisador e gerente de coleções do Laboratório de Ornitologia de Cornell, que não esteve envolvido no artigo.

Íbis-gigante
Íbis-gigante: a espécie está ameaçada de extinção desde 1994. Foto: Macaulay Library

“O que estamos falando aqui é observável”, disse Miller. “Está acontecendo. Não são apenas espécies desaparecendo aleatoriamente. Há previsibilidade nesse processo. É importante e também preocupante”.

O artigo mostra que as espécies mais ameaçadas são também as mais geneticamente distintas, como o íbis-gigante ou o sisão bengalês, o sisão mais raro do mundo, dos quais restam apenas algumas centenas em uma faixa estreita que se estende por Camboja, Índia e Nepal. O artigo também sugere que os pássaros em ambos os extremos do espectro de tamanho – desde o cintilante beija-flor, que é turquesa e tem 10 centímetros de comprimento, e até o papagaio kakapo, que pode ter o tamanho de uma mochila – correm maior risco de extinção.

“Estamos perdendo as maiores e as menores espécies”, disse Hughes.

Essa perda de diversidade morfológica, disse ela, está intimamente ligada à perda dos papéis ecológicos que cada espécie desempenha no habitat que ocupa. Afinal, a aparência de um pássaro geralmente está ligada à maneira como ele sobrevive: os beija-flores usam bicos longos e finos para saborear delicadamente o néctar, já o bico em forma de bolsa do pelicano permite capturar presas aquáticas e engoli-las inteiras.

E os pássaros não vivem no vácuo. Eles polinizam plantas, espalham sementes, controlam pragas, regeneram florestas e esculpem, cavam ou constroem casas para vários outros organismos. Quando uma espécie de ave desaparece, o buraco que ela deixa em seu habitat pode ser impossível de ignorar e de preencher, ou ambos.

“O ecossistema se desfaz”, disse Miller.

O novo artigo descobriu, por exemplo, que os abutres estão desproporcionalmente ameaçados, apesar de seu papel ecológico fundamental. Como necrófagos, os abutres ajudam a limpar carcaças em decomposição que, de outra forma, transmitiriam doenças infecciosas ou alimentariam necrófagos menores, como ratos e cães, que podem, por sua vez, espalhar raiva e peste bubônica para humanos.

Biguá-das-chatham
Biguá-das-chatham é uma das aves mais propensas a ser extinta. Foto: Chatham Island shag

“Há certas coisas que as aves fazem nos ecossistemas que são importantes para nós”, disse Hughes. “Estamos perdendo espécies que são benéficas para a humanidade”.

O estudo também mostra que os habitantes emplumados do planeta estão se tornando cada vez mais homogêneos.

“Quase tudo já está mais simples, marrom e chato” no mundo das aves, disse Miller.

A crise de extinção não apenas nos custará um certo número de espécies, mas também empobrecerá a biodiversidade que nos resta, disse ele, acrescentando: “Isso mostra que estamos deixando o mundo um lugar menos rico com nossas ações”.

Fonte: Estadão

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