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Titãs sobrevivem por ser a única organização sem líderes no rock and roll

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Mais do que um grupo proeminente do rock brasileiro, os Titãs são um fenômeno estrutural de 40 anos sem nenhuma referência parecida com outra organização grupal de rock no planeta. Nove integrantes eram uma ousadia quando trios e quartetos estavam em alta (aliás, o que nunca foi diferente): Paralamas do Sucesso, RPM, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Ira!, Plebe Rude. O rock nacional reproduzia o sistema da redução eletrificada do que um dia foi uma extensa big band. Aos poucos, o baixo acústico saiu dessa redução para o elétrico entrar e o piano foi substituído por duas guitarras, base e solo, para, algum tempo depois, voltar reencarnado em forma de teclado.

Mas os Titãs eram nove criaturas criativas, nove  colaboradores, nove caras prontos para assumirem a frente de qualquer projeto paralelo. Que outro grupo foi assim? O rock se fortaleceu com estruturas centralizadoras e lideranças, de preferência, messiânicas. Renato Russo, a maior delas por aqui, se foi para mostrar o outro lado dessa moeda. Um grupo escorado a uma figura central de tamanha força será imediatamente extinto assim que perder seu líder. Sem Nasi não existiria o Ira!; sem Marcelo Nova, não haveria Camisa de Vênus; sem Humberto Gessinger, os Engenheiros seriam inviáveis. Mas sem Arnaldo Antunes, sem Marcelo Fromer, sem Nando Reis, sem Paulo Miklos e sem Charles Gavin, os Titãs ainda pulsam. Não como antes, assim como o Ira!, com os originais Nasi e Scandurra, também não pulsam como antes, mas ainda pulsam.

Ao decidirem não corporativizar a marca, ou seja, não preencher suas vagas abertas pela evasão de talentos com substitutos que não fossem bons instrumentistas, os Titãs foram desidratados mas não se distanciaram de si mesmos. E o normal, mostra a história, não é esse: o Whitesnake, depois de um entra e sai danado, contabilizou 64 integrantes; o Iron Butterfly, também 64; o Guns N’ Roses, 23; e o Fleetwood Mac, 18. Uma necessidade de palco e de dinheiro insana que, muitas vezes, os fizeram soar desfigurados. Mas o rock admite reinos bipartites, desde que as funções estejam bem definidas. Mick Jagger é o 1, Keith Richards, o 2; Axl Rose o 1, Slash, o 2. Bon Jovi, o 1: Richie Sambora, até sua saída, em 2013, o 2.  Cazuza era o 1, e o que salvou o Barão Vermelho do fim com sua saída foi o fato de haver um 2 tão competente quanto o 1. Frejat assumiu e melhorou a banda, mas nunca teve um 2, e o que aconteceu com o Barão depois de sua saída, apesar dos esforço de um substituto, foi algo perto do fim. A vida descentralizada dos Titãs até parecia uma festa, mas era sobrevivência.

Fonte: Estadão

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