O preço médio da saca de soja atingiu R$ 182,94 em Mato Grosso do Sul no dia 10, a maior alta em três meses. No indicador nacional do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea-USP) isso também pôde ser notado, com valores médios na casa dos R$ 200,25 neste mês, contra R$ 207,14 em março.
Com isso, cresce a expectativa entre especialistas de que a commodity atinja o maior preço nominal da história em breve. Neste mês, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) puxou para baixo a expectativa de produção da safra 2022/2023 para 280 milhões de bushels, 30 milhões a menos do que em levantamentos anteriores.
Segundo a empresa de consultoria americana AgResource, essa queda de oferta dos estoques somada a uma demanda que não deve retrair, em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia, que retiram milhões de toneladas de grãos da economia mundial, a perspectiva é de que o preço chegue a patamares ainda mais altos e a demanda chinesa seja absorvida pelo estoque brasileiro.
Essa é a mesma percepção de Vlamir Brandalizze e Staney Barbosa Melo, economista do Sindicato Rural de Campo Grande (SRCG).
“Existe uma tendência de alta para os preços da soja que deve se manter pelo menos até o início da colheita americana, em meados de outubro. Essa tendência se explica primariamente em função da menor oferta de grãos disponíveis para negociação atualmente”, pontua Staney Barbosa Melo.
Ainda segundo o economista do SRCG, isso acontece porque esse mercado tem um nível de concentração elevado, já que Brasil e Estados Unidos respondem por aproximadamente 67% de toda a soja produzida no mundo.
Brandalizze atesta que os meses de junho, julho e agosto são os períodos em que a soja tem o preço mais pressionado historicamente na bolsa de Chicago, nos EUA. De acordo com o consultor e palestrante, o mercado está firme.
“Para termos novas altas de quebra de recorde, são necessários dois fatores: dólar bem acima dos R$ 5 e confirmar o clima nos EUA – que seja bastante seco e quente”.
Segundo o consultor, “só aí teremos cotações bastantes atrativas. Nos portos, a saca chegou a ser negociada a R$ 210 – recorde atingido em março. Hoje, [a saca] está em torno de R$ 203, R$ 205, não muito longe disso. Para ultrapassar essa marca, precisamos de uma pressão que confirme esses fatores”.
Como a China é o grande comprador mundial da oleaginosa e os Estados Unidos têm um apetite grande de consumo interno associado à possível quebra, os estoques americanos devem ficar bem reduzidos, segundo Brandalizze.
“A procura cresce para o Brasil, a safra está limitada pela quebra, e [os EUA] venderam muito e consomem bastante, então, a China pode se virar para o Brasil”.
Com o início da safra 2022/2023 por lá, os estoques americanos estão se depletando. “O último relatório do USDA apontou uma redução nos estoques americanos, que passaram de 6,4 milhões de toneladas para 5,58 milhões de toneladas, agravando ainda mais o quadro de equilíbrio entre oferta e demanda de grãos”, resume.
Já o consultor e engenheiro agrônomo João Pedro C. Dias é um pouco mais cauteloso. Para ele, o cenário é complexo, mas só com o alinhamento de certas variáveis é possível que o produtor se beneficie desse cenário.
“Brasil, EUA e Argentina, no mundo, e a Ucrânia, na Europa, são os principais produtores de soja e cada um deles teve seus problemas neste ano. A América do Sul enfrentou uma forte quebra – inclusive MS. Os americanos têm expectativas de passar por seca similar, mas ainda é muito cedo para saber a questão da produtividade. Além disso, tem custo alto de insumos e imposto muito pesado, os três players têm problemas”, explica Dias.
O especialista também recorda que, com o evento da gripe suína, a China mudou a forma de produção da principal proteína consumida no mercado interno, antes mais rústica, para um padrão mais industrializado, algo que requer um aumento no volume de grãos para ração das matrizes, o que também pressiona para cima o preço do óleo de soja e do biodiesel.
“Nessa confusão toda, o Brasil pode ser o player mais importante, porque temos terra para expansão. Só MS consegue aumentar quase 250 mil hectares de área plantada a cada safra. A questão que fica é se temos capital suficiente para fazer esse investimento e se o clima será favorável”, pondera.
Conforme Vlamir Brandalizze, os próximos meses serão determinantes para o mercado mundial.
“As próximas seis semanas definem a safra deles, então saberemos como a plantação passou pela fase de maturação. Em setembro, saberemos se as plantas estão enchendo grãos e teremos uma ideia do tamanho da quebra”.
Em Mato Grosso do Sul, o preço médio deste mês é de R$ 178,45 por saca. Ao comparar com igual período de 2021, houve alta nominal de 14,78%, quando a saca da oleaginosa havia sido cotada, em média, a R$155,45.
O indicador Cepea/Esalq da soja foi cotado a R$ 200,25 por saca no dia 13. Esse patamar representa uma valorização de 4,73%, quando comparado aos R$ 190,77 do dia 6.
Em relação ao mesmo período no ano passado, houve alta nominal de 20,16%, tendo em vista que o indicador foi cotado a R$ 166,65 por saca em 14 de junho de 2021.
Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, a China segue como o principal destino da oleaginosa produzida em MS. De janeiro a maio, o país asiático foi responsável por 79,35% de toda a soja comercializada a partir do Estado. Foram 1,922 milhão de toneladas líquidas só para esse destino.
Mato Grosso do Sul vendeu 2,310 milhões de toneladas líquidas das 2,412 milhões comercializadas para os 10 principais compradores da commodity, totalizando 99,61% do total exportado nos primeiros cinco meses do ano.
De acordo com o Boletim Casa Rural da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), até o último lançamento do informativo, o Estado tinha comercializado 72% da safra de soja 2021/2022.