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Observação de aves: reconexão com a natureza

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O Global Big Day é o dia reservado para a observação de aves (birdwatching), quando observadores (birders) do mundo inteiro contemplam aves livres em ambiente natural, com o objetivo de registrar o maior número de espécies em um período de 24 horas.

No sábado retrasado, dia 14, quase 200 pessoas, distribuídas em 41 equipes, formadas em 22 municípios de Mato Grosso do Sul, participaram da ação, incentivadas pelo Instituto Mamede de Pesquisa e Ecoturismo, pela Fundação de Turismo de MS e pela agência de marketing especializada em Turismo de natureza Passarinweb.

Os dados são submetidos voluntariamente pelos participantes ao banco de dados da Universidade de Cornell, nos EUA, por meio do aplicativo E-bird, que deve estar instalado no smartphone dos interessados, o qual registra a localização, o trajeto, o tempo, os nomes e a quantidade de aves avistadas e ouvidas, mesmo off-line.

“No total, em Mato Grosso do Sul, foram 336 espécies registradas em 24 horas, número que representa 49,5% das 678 espécies catalogadas para o Estado”, revela a bióloga e educadora ambiental Maristela Benites.

“Diretamente, tivemos a participação de 195 pessoas, inclusive crianças de 4 anos a idosos de 87 anos. Indiretamente, foram muito mais pessoas envolvidas, porque vários grupos agregaram mais participantes, por exemplo o Coletivo de Jovens Protetores da Natureza de Jateí”, destaca Maristela.

“O Big Day promove a ciência cidadã, e toda a mobilização em torno da observação de aves livres repercute na educação ambiental e no ecoturismo. Novos destinos certamente se tornarão conhecidos em MS, e outros já consagrados ganham mais notoriedade como verdadeiros hotspots, nos quais os birders têm chance de encontrar de 140 a mais de 200 espécies em um único dia, como foi nesse sábado”, resume Maristela.

Para a bióloga, o evento mostra que a biodiversidade existente em Mato Grosso do Sul é uma potência, o que permite novas leituras e perspectivas para o desenvolvimento e a inovação. “Em outubro tem mais”, avisa Maristela.

Valor da biodiversidade para o turismo

Há um ano, Eva Ferraz e seu companheiro, Diogo Carneiro, decidiram empreender em uma parte da fazenda dos pais de Eva e montaram o Refúgio Santa Teresa, um belíssimo camping à margem do Rio Taquari-Mirim, entre Rio Verde e Coxim.

No local, recebem campistas, motorhomes e famílias que buscam o local para passar o dia ou acampar em ambiente tranquilo, em contato com a natureza.

Em setembro passado, Eva e Diogo fizeram um curso de formação de condutores especializados em birdwatching, oferecido pela instância de governança regional Rota Cerrado Pantanal, com recursos viabilizados por meio de edital da Fundação de Turismo de MS.

O curso ofereceu aulas com especialistas da área e capacitou 30 interessados do setor de turismo dos municípios de Rio Verde, Coxim, Alcinópolis, Costa Rica, Figueirão, Paraíso das Águas e Pedro Gomes a empreender na área e trabalhar nesse nicho.

Para essa edição 2022 do Big Day, entusiasmados com a movimentação provocada em um grupo de WhatsApp e pelos resultados do ano passado, o casal preparou um pacote especial para birders, com café da manhã, almoço, café da tarde e jantar, fez a divulgação e aguardou ansioso pelo grande dia.

“Havia uma certa insegurança de minha parte. Será que viriam mesmo? Será que haveria passarinhos?”, diz Eva, recordando do frio na barriga. Por fim, um grupo de nove adultos com duas crianças se interessou pela proposta e participou do Big Day no Refúgio Santa Teresa.

Alguns acamparam, outros apenas passaram o dia, mas registraram 73 espécies, formando a tão desejada lista que vai servir para atrair outros birders a visitarem o refúgio ecológico.

Ao fim, Eva postou no Instagram: “Saibam que quem está imensamente com o coração transbordando de felicidade e de gratidão por tê-los recebido aqui no Refúgio sou eu! Obrigada por cada sorriso, cada gargalhada, pelas brincadeiras, pelas fotos dos passarinhos e pela nossa linda lista. E, para deixar registrado, não só os passarinhos apareceram e deram um show, como tivemos a felicidade de avistar um casal de antas atravessando o rio”.

Para a bióloga Maristela Benites, todo esse esforço coletivo rende alegrias, motivação, sentimento de comunhão, pertencimento, novas percepções sobre a vida e a natureza, além de registros de novas ocorrências e de aves raras e ameaçadas, como a tesoura-do-campo, encontrada pela primeira vez em Anaurilândia, e o socó-boi-jararaca, em Bodoquena.

“A cada ano temos mais adeptos nesta prática, que vem fortalecendo o turismo e fomentando destinos inteligentes pelo MS, uma vez que envolve a valorização da biodiversidade, a inovação, o uso de tecnologias e de plataformas colaborativas em uma perspectiva de sustentabilidade e de valorização ao que temos de mais importante, a vida”, relata a doutora Simone Mamede, sócia-proprietária do Instituto Mamede de Pesquisa e Ecoturismo.

Áreas naturais protegidas

Houve grupos no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema – que chegou a registrar 122 espécies em menos de 10 horas –, no Parque Estadual do Prosa, em Campo Grande, onde as equipes encontraram várias espécies endêmicas do Cerrado, sobretudo as dependentes de ambientes florestais, e também no Parque Natural Municipal do Córrego Cumandaí, em Naviraí, na RPPN Estância Mimosa, em Jardim, e na RPPN Boca da Onça, em Bodoquena.

Para José Sabino, cientista especialista em biodiversidade, “o grande ‘barato’ dessas ações que estimulam as pessoas a observarem a natureza, seja na cidade, em um parque, em uma praça ou em áreas conservadas, é fazer uma reconexão com a natureza. A gente passa hoje a maior parte do tempo conectado à internet, em dispositivos como smartphones ou computadores, e vai se desconectando do mundo natural”.

“Quando surge uma proposta organizada, estruturada e que sintetize esse esforço de observação, a gente acaba por ganhar esses momentos especiais de reconexão com a natureza. E isso causa uma série de fatores que são muito bem estudados, especialmente em relação ao bem-estar gerado pelo contato com a natureza”, explica ele.

“Além de aprendermos um pouco sobre os organismos que dividem o planeta com a nossa espécie, a gente passa a respeitá-los, a conhecer um pouco da biologia, do comportamento, mas no fim isso permite que a gente faça reflexões e consiga compreender de certa forma que somos parte da natureza também. Por fim, o grande ponto positivo é essa reconexão com o mundo natural, você sai da tirania das telas”, completa.

FOTOGRAFAR É FÁCIL

Mesmo com o celular, pode-se fotografar um sanhaço em um mamoeiro no quintal de casa, um casal de araras na área urbana, um soldadinho em Rio Verde ou uma harpia na Serra da Bodoquena.

Pode parecer um desafio ou mesmo uma brincadeira prazerosa para a família, mas de grande valor para a ciência, para a educação ambiental e para o turismo sustentável.

Registros do Big Day em Mato Grosso do Sul

336 espécies observadas;

146 listas completas;

213 hotspots (áreas propícias para observação de aves).

 

Fonte:CE

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