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Vale deixa Mato Grosso do Sul sem cumprir promessas

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A definição oficial da venda de ativos da Vale para a J&F Investimentos Ltda. encerra um ciclo da empresa mineradora de não desenvolver tecnologia para agregar valor à exploração de minério de ferro em Mato Grosso do Sul.

A empresa era, até então, a principal exploradora das reservas no Estado, porém manteve só a política de retirar o minério e transportá-lo para suas unidades mais tecnológicas localizadas em Minas Gerais ou realizar a exportação direta.

Entre 1976 e 2008, a Vale não detinha o monopólio da exploração de minério em Corumbá. Só passou a dominar o setor local a partir de 2009, quando comprou a anglo-australiana Rio Tinto por US$ 750 milhões na época.

A concorrente atuava na região também desde a década de 1970. A Rio Tinto, então maior exploradora das reservas, tinha a missão de tornar Corumbá um polo de siderurgia, seguindo no compasso de uma política de Estado a partir de 2002.

Nessa época, a demanda estava crescente, havia elevação dos preços do produto e uma política de agregar valor. Dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) mostraram que o minério de ferro brasileiro custava pouco mais de US$ 20 por tonelada até 2003 e alcançou US$ 140 a tonelada em 2008. Hoje, custa cerca de US$ 160.

Porém, houve inibição para efetivar o projeto e a Rio Tinto deixou o mercado em um ano em que houve queda no preço.

A Vale assumiu as operações em 2009 e, mesmo com elevação do valor do minério de ferro no ano seguinte, o plano de industrializar a extração acabou não saindo do papel.

A entrada da Vale com o monopólio representava uma nova fase para a mineração em Corumbá, porém, com o passar dos anos, não houve valor agregado para a região.

“Em 2009, a Vale adquiriu a mina da MCR [Mineração Corumbaense Reunidas] do Grupo Rio Tinto, começando a sexta fase do desenvolvimento da atividade mineral em Corumbá, um período de monopólio da produção mineral, em que a Vale detém cerca de 90% da produção, por meio de suas empresas, a Urucum Mineração e a MCR”, detalhou Naman de Moura Brito, mestre em Geografia pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

O pesquisador apontou que diferentes deficiências fizeram com que a mineração no Pantanal ficasse atrelada apenas ao fator de exploração, sem elevação do valor agregado e maior desenvolvimento regional, bem como do Estado.

“Uma soma de fatores, como questão energética, política e estrangulamentos em infraestruturas de transportes foram inibidores da efetivação do projeto [de um polo siderúrgico em Corumbá]”, identificou Brito, que realizou trabalho acadêmico para abordar a mineração em Corumbá chamado de “Desenvolvimento econômico e mineração: uma abordagem da atividade em Corumbá, MS”.

Transportando de 2009 para 2022, os problemas estruturantes perpetuaram. E a Vale, apesar de não detalhar essa questão, decidiu colocar seus ativos à venda por encontrar obstáculos no escoamento da produção, aliado ao custo desse transporte, que ficou restrito ao meio rodoviário.

A estrutura fluvial está condicionada a fatores climáticos, e a navegação não é permitida de forma comercial nos 12 meses do ano. O meio ferroviário não é favorável porque encontra-se em abandono há 26 anos.

“O planejamento de território requer a integração local e regional, para criar as condições de competitividade e desenvolvimento. Nesse sentido, os transportes representam, para a atividade mineral de Corumbá, nós de estrangulamento, restringindo agregação de valor à matéria-prima e impedindo a produção local de participar de outros mercados consumidores”, resumiu o pesquisador.

ESTRUTURA EM MS

Esse desafio agora está sendo repassado ao grupo proprietário da JBS, que tem plantas de frigorífico espalhadas em Mato Grosso do Sul e que também detém a Eldorado, gigante do setor de produção de celulose, em Três Lagoas.

Conforme comunicado ao mercado nacional e internacional divulgado pela Vale, o contrato com a J&F Investimentos Ltda., que é controlada pela J&F Investimentos S.A., foi assinado ontem (6). A compra compreende ativos da Mineração Corumbaense Reunida S.A., Mineração Mato Grosso S.A., International Iron Company, Inc.; e Transbarge Navegación Sociedad Anónima.

Esse pacote transfere os direitos de exploração de minério de ferro, minério de manganês e a logística no Sistema Centro-Oeste. Os atuais contratos vigentes no modelo take-or-pay também foram incorporados à negociação.

“Pelos termos acordados, o enterprise value da transação é de cerca de US$ 1,2 bilhão para um conjunto de ativos que contribuiu com US$ 110 milhões de Ebitda ajustado para a Vale em 2021. No fechamento da transação, a Vale receberá cerca de US$ 150 milhões, além de transferir ao comprador as obrigações relacionadas aos contratos logísticos de take-or-pay, sujeito à anuência das contrapartes aplicáveis e demais passivos existentes no conjunto de ativos das referidas sociedades”, informou a nota da Vale.

O comunicado ainda detalhou que faltam aprovações de órgãos federais para que a transação seja efetivada por completo. “O comprador também assumirá as operações com todos os funcionários do conjunto de ativos”.

A mineradora, que está em Corumbá há 46 anos, vem tratando sobre o desinvestimento no Pantanal desde o fim do ano passado.

A decisão de vender os ativos em Corumbá, conforme apurado, está na análise de mercado que a empresa fez diante do custo de escoamento da produção e as dificuldades encontradas para a exportação, principalmente em razão da estiagem e do impedimento da navegação comercial pelo Rio Paraguai.

Esse problema se arrasta há praticamente quatro anos, a serem completados agora em 2022. Além disso, a previsão é de que a seca perdure até 2024.

A exploração de minério no Pantanal, pela Vale, era responsável pela geração de mil empregos diretos. Além disso, ela gera mais de R$ 90 milhões ao ano de arrecadação, tanto para a Prefeitura de Corumbá como para o Estado.

1,7 bilhão de reais

Quando a Vale adquiriu a estrutura, em Corumbá, para a exploração de minérios de ferro e de manganês, o negócio com a Rio Tinto ficou na cifra de US$ 750 milhões.

Na época, a cotação da moeda norte-americana estava na faixa de R$ 2,30 e, com isso, a transação foi de cerca de R$ 1,7 bilhão.

Fonte:CE

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