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Pão francês subiu 15% e pode ter reajuste de mais 10% em abril

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Golpeado duas vezes nos últimos meses, o preço do pão francês deve subir novamente, em abril. O primeiro “soco” veio com a inflação acumulada em 2021, que em Campo Grande ficou em 10,92% no ano, e o segundo veio com a invasão russa à Ucrânia.

A reportagem do Correio do Estado fez uma consulta de preços em algumas padarias da cidade e o valor já está bem próximo da marca de R$ 20 o quilo.

Em duas das localidades, o pão já é vendido a R$ 18,90 o quilo. O preço mais comum encontrado está por volta de R$ 15, em supermercados e em algumas padarias da periferia.

Em cinco meses, a variação da tonelada de trigo no mercado internacional atingiu a marca de 16,67%. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), em 24 de setembro de 2021, o cereal era comercializado a R$ 1.591,46 a tonelada, cinco meses antes do início da guerra.

No dia da eclosão do conflito, em 24 de fevereiro deste ano, o cereal subiu para a R$ 1.719,61, e um mês depois, em 24 de março, atingiu o pico de R$ 1.909,91, variação de 10% em um mês.

O Correio do Estado conversou com empresários e todos relataram um cenário de incerteza, que começou por volta de outubro de 2021. Adriano Toscano, proprietário da Padaria Toscano, diz que neste período não conseguiu comprar saca de farinha de trigo a preço estável.  Isso o levou a aumentar o preço em 15%.

“[A saca] saiu de R$ 88 para R$ 100. Os grandes moinhos nem trabalham com orçamento previsto. Desde outubro de 2021, não consigo comprar farinha de trigo pelo mesmo preço”, relatou.

A variação de 12% neste insumo levou ao aumento do preço três vezes nos últimos 12 meses. “Aumentei o preço em abril de 2021 e voltei a subir de novo, em janeiro deste ano, por causa da inflação. No próximo mês [em abril], devo subir de novo. Isso nunca aconteceu. Antigamente, subia o preço uma vez por ano e já era suficiente”.

Corretor de grãos da Granos Corretora, Carlos Dávalo revela que o trigo de Mato Grosso do Sul vem praticamente todo do Paraguai. “No curto prazo, não tem como mudar essa realidade. Então, como o trigo é importado, ele está suscetível a variações cambiais do mercado internacional”, explicou.

Outro proprietário que relata preocupação é Fabiano Louzan, da padaria Dona Chica. Ele corrobora o cenário apresentado pelo concorrente e insere ainda na conta o preço do gás, da eletricidade e do combustível. “A cada 20 dias, tem um preço novo da farinha de trigo. Com aumento de gás e energia, devo aumentar ainda mais o preço”.

O empresário conta que vendia pão francês por R$ 12,99 o quilo até janeiro deste ano. Atualmente, ele comercializa o pãozinho a R$ 14,99. “Tenho esse preço porque consegui segurar o repasse. Mas, se vier o próximo mês com reajuste de mais de 10%, terei de aumentar novamente”.

Carlos Dávalo explica que pode haver uma esperança nos próximos meses, caso o dólar se estabilize abaixo de R$ 5. “Como temos um ano volátil, que começou com a guerra, e terá eleição no segundo semestre, a expectativa é saber se o dólar fica abaixo desse patamar. Se sim, teremos um impacto menor ao bolso do consumidor”, afirma Dávalo.

Fabiano conta que, com os sucessivos aumentos, as margens ficam apertadas. Segundo ele, não seria surpreendente o preço do quilo do francês atingir o patamar de R$ 20.

“Eu brinco que trabalhávamos mês a mês durante a pandemia, agora estou trabalhando semana a semana. Todos os auxílios possíveis que deram para nos manter funcionando durante a pandemia eu peguei, agora tenho que pagar os financiamentos, e isso atendendo 100 pessoas a menos por dia”, conta.

O especialista disse que no passado o Estado já foi autossuficiente no cultivo. “Como o nosso trigo é considerado duro, ele é mais indicado para a moagem e produção de pães, diferente do que é cultivado no Sul do País, mais indicado para biscoitos”.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Mato Grosso do Sul já plantou 400 mil hectares de trigo na década de 1980. Atualmente, a expectativa para a próxima safra é de que sejam plantados 35 mil hectares, apenas.

Em abril, o Ministério da Agricultura e a Embrapa Trigo desenvolvem um projeto para transferência de tecnologia para produtores rurais da região centro-sul e também de Mato Grosso do Sul. A expectativa é aumentar em 100 mil hectares a área plantada até 2025.

O chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, disse que até 2030 é possível que o Brasil reverta o impacto do trigo na balança comercial e passe a ser um exportador do cereal.

“Disseminar a tecnologia, informar e cultivar o trigo nos possibilita deixar de mandar mais de R$ 10 bilhões por ano. Se melhorarmos a qualidade dos trigos, no meu entender, produziremos o trigo que o Brasil necessita e conseguiremos produzir 22 milhões de toneladas de trigo, 8 milhões a mais do que precisamos atualmente”, projeta.

 

Fonte:CE

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