No alto de um morro em Bonito, uma santa desperta curiosidade. A imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro só é reconhecida por quem chega perto, mas é possível vê-la da rodovia MS-178, que dá principal acesso à cidade.
É difícil passar pela entrada do município, ainda na estrada, e não reparar na grande estátua branca, feita de gesso, no topo alto da colina. Ela está colocada ali, de frente para a rodovia e para os viajantes que trafegam há 44 anos. Mesmo assim, em Bonito, há um mistério ou, simplesmente, o desconhecimento de como a imagem foi instalada naquele local, quando, por quê, e por quem.
Se nem em Bonito a população sabe, que dirá os sul-mato-grossenses que volta e meia dão um pulo na região. A santa foi colocada em 1978, mas a história começou em 1965. Para reportagem, Luiz Falcão, descendente do fundador da cidade, revelou toda a verdade por trás da santa do Morro da Santa – que foi batizado assim, justamente pela presença de Nossa Senhora.
A padroeira de Mato Grosso do Sul, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi parar no alto do morro por meio de Luiz Falcão, que hoje tem 77 anos. Tudo começou quando sua primogênita Denise, aos quatro meses de vida, precisou ser submetida a uma cirurgia.
“Eu sou devoto de Perpétuo Socorro, sempre gostei muito, e apelei para a santa quando estava com uma filha doente, isso em 1965, para proteger e ajudar minha menina. Na época, eu precisei levar ela para fazer uma cirurgia de risco em São Paulo. Ela tinha só quatro meses de idade e fez essa cirurgia na perna, levou 20 pontos… cortaram minha filha inteirinha”, relembra Luiz, com aperto no coração.
O médico deu à família o diagnóstico de hemangioma, um conjunto de pequenos vasos sanguíneos que se aglomeram em determinado ponto do corpo. Na perna, no caso de Denise. “Eu não sei se na época era um câncer, e o médico daqui de Jardim que mandou ela para o hospital do câncer, em São Paulo. Aí eu pedi à Nossa Senhora que protegesse minha filha e a todos nós. Graças a Deus deu certo”, relata o pai.
A gratidão, a devoção e a resposta ao milagre levaram então Luiz Falcão a decidir instalar a imagem da santa que lhe atendeu no morro que ficava em uma chácara de sua propriedade. O ato não era uma promessa: ele quis, por conta própria, e isso aconteceu em 1978, 13 anos depois de receber a graça.
“Eu falei ‘vou fazer isso pra Nossa Senhora, vou pôr a imagem dela lá, quem sabe se ela não vai curar muita gente, ajudar mais gente’. E aí eu coloquei… comprei a imagem em São Paulo, fiz uma oferta e uma missa em cima do morro. Muita gente foi. Foi muito bonito e muito gratificante pra mim aquilo”, relembra.
A única coisa que Luiz prometeu à Perpétuo Socorro, era que levaria Denise até o Paraguai, em frente a uma imagem da mesma santa, se a pequena fosse curada. E ele levou assim que chegou de São Paulo.
O local onde fica o Morro da Santa pertencia à Luiz Falcão, que já foi vereador e vice-prefeito de Bonito, mas ele precisou vendê-lo alguns anos depois. O combinado com o novo proprietário era de que a santa permaneceria ali. Ele conta que nem pensou em levá-la consigo. “O lugar dela era ali”. Posteriormente, o outro dono da propriedade também vendeu a área e os novos proprietários também mantiveram a imagem no morro.
“Aquela propriedade era minha, e a chácara tinha o nome dela também, chácara Perpétuo Socorro. Depois trocaram. Quando que eu coloquei ela lá, muita gente de outros lugares começaram a ir, não sei se por promessa, mas largavam muleta, roupas, essas coisas… O povo nem sabia quem tinha colocado”, afirma Luiz Falcão.
Em Bonito, pouca gente sabe da verdade, da real história por trás da marcante santa que dá boas-vindas para quem entra no município. “A maioria das pessoas que participaram da missa, que viram a santa ser instalada e ajudaram ela a ser colocada lá em cima, nem existem mais”, pontua ele.
“Até hoje não tiraram… eu acho que não tiram, acho que é impossível. Espero que ninguém tire. Se a pessoa tirar, vou ver o que eu consigo fazer”, finaliza Luiz. Por trás da santa que desperta curiosidade no alto do morro, está a história de um pai desesperado e uma bebê de quatro meses correndo risco de vida.
A gratidão pelo milagre levou à ação espontânea da instalação de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro pouco depois da entrada, a fim de que ela abençoasse e ajudasse mais pessoas que viessem a passar por ali e, assim como o pai aflito, depositassem sua fé.
Fonte:MM