A abertura da temporada de pesca 2022 na terça-feira (1º) foi motivo de animação para comerciantes, guias de pesca e pescadores amadores e profissionais da região norte de Mato Grosso do Sul.
Os rios Coxim, Taquari e Piquiri são os mais procurados para captura de espécies nativas como pintado, pacu, piauçu, entre outros, enquanto a represa do Rio Correntes, em Sonora, é destino dos pescadores esportivos para captura e soltura do exótico e “brigador” tucunaré.
As chuvas de dezembro, janeiro e fevereiro no planalto contribuíram para que a água dos rios transbordasse e inundasse os campos do Pantanal, provocando o fenômeno da coalescência das águas, quando os rios rompem os obstáculos naturais e alcançam vazantes e baías.
Esse evento leva nutrientes para as larvas e “filhotes” e permite que os peixes maiores subam os rios rumo às partes altas para se reproduzirem durante a piracema.
Mesmo com o fim do período reprodutivo estabelecido pelas autoridades, os ribeirinhos ainda comentam a subida de cardumes de lambaris ocorrida no fim de semana.
“É um espetáculo lindo de se ver, os pintados vêm em busca dos lambaris, movimentando a água. Sobe um cheiro forte de peixe”, disse Francisco Rogério Sousa Diniz, proprietário de um bar ao lado do principal porto municipal de Coxim.
Para o comerciante do setor de pescado Antonio Miguel de Andrade, se a data de abertura da pesca fosse na sexta-feira de Carnaval, o movimento seria muito maior, pois garantiria um fluxo maior de pescadores amadores e turistas na região ao longo do fim de semana.
“A expectativa para este ano é boa, mas o movimento de turistas para a pesca foi bem melhor no passado. Vinham ônibus de paulistas, goianos, mineiros. Quando saía um, chegava outro. Hoje o público aqui da nossa loja é mais de moradores de cidades da região que têm ranchos por aqui”, afirmou Andrade.
Segundo o presidente da colônia de Pesca Z-2, Armindo Batista dos Santos Filho, a expectativa é muito boa. “Tudo depende da situação climática. Quando dá enchente, o ano vindouro é bom de peixe. Várias cabeceiras [cardumes] de peixes estão subindo. O preço do peixe está elevado, a expectativa do pescador profissional artesanal é muito boa, há esperança de muito peixe”, salientou.
Osmar Nunes, outro pescador profissional de Coxim, também está esperançoso para um ano “bom de peixe”. “Tivemos muita chuva, encheu bastante o Pantanal e isso deu condições para os peixes subirem. Vai ter abundância de peixe mais do que em anos anteriores”, reiterou.
TURISMO DE PESCA
Há um consenso em Coxim de que a fartura de pescado ocorrida no passado diminuiu muito em decorrência do assoreamento dos rios e pelo fechamento de baías no Pantanal, que funcionam como berçários de peixes, mais especificamente na região do Caronal, no Baixo Taquari.
Com isso, o movimento de turistas de pesca diminuiu consideravelmente em relação a 40 anos atrás, quando Coxim era um dos destinos mais piscosos do Brasil e os hotéis e campings viviam lotados.
No entanto, com a pandemia de Covid-19, a prática de canoagem tem aumentado no município em virtude da busca por isolamento na natureza.
Novas empresas foram criadas para oferecer passeios de caiaque, piloteiros foram formados pela Marinha para oferecer passeios de lanchas e novos produtos turísticos foram surgindo.
Manoel Junior, integrante da Galera do Taquari, grupo formado por filhos de pescadores profissionais de Coxim, contou que a associação – sem fins lucrativos – já tem 56 integrantes que se mobilizam para a prática de pesca esportiva e de esportes náuticos.
Com o objetivo de contribuir com o turismo da região, o grupo já realizou um campeonato de pesca em 2021.
“Pretendemos realizar um encontro de jet-skis, caiaques e lanchas ainda neste mês de março, e depois outro, de pesca, com premiações maiores do que o ano passado, para atrair mais público de fora”, disse Manoel.
De acordo com o integrante da Galera do Taquari, o pesque e solte não era praticado em Coxim, além do uso de iscas artificiais. “Mas já temos guias capacitados nessa modalidade”, pontuou Junior.
Já em Sonora, na divisa de MS com Mato Grosso, onde há a represa do Rio Correntes, é grande a procura por tucunarés, espécie exótica de peixe muito apreciada pelos pescadores esportivos.
Segundo Mayoni Miguel, gerente de Meio Ambiente e Turismo de Sonora, as reservas em hotéis estão garantidas até o fim da temporada de pesca, em novembro.
“Em conversa com os proprietários das pousadas que exploram o turismo de pesca na região, existem muitos agendamentos, principalmente por pessoas de fora do Estado”, afirmou.
Para o presidente da instância de governança regional Rota Cerrado Pantanal, Luiz Roberto Roque, a tradição da pesca é muito forte, mas as alternativas do ecoturismo possibilitam a vinda de novos públicos, como os observadores de aves e os trilheiros, além dos turismos arqueológico, cultural e gastronômico, que têm crescido na região.
POSSIBILIDADES
Para José Sabino, especialista em ecologia de peixes, os períodos de chuva e de reprodução dos peixes (piracema) são eventos naturais sincronizados.
“Em tese, ao fim da piracema, os peixes migradores já teriam finalizado sua reprodução. Contudo, com as mudanças climáticas e as eventuais mudanças do período e ciclo de chuvas, a reprodução pode sofrer alterações. Seria interessante que os pescadores, ao limparem os peixes, olhassem as gônadas [ovas]. Se os peixes estiverem com as ovas, a piracema ainda está ocorrendo”, explicou Sabino.
O especialista em ecologia dos peixes explicou ainda que há outras formas de reprodução, como de peixes que são mais “residentes”.
“Um bom exemplo é dado pelos carás e joaninhas. Muitos deles se reproduzem ao longo do ano todo, fazem ninhos, cuidam da prole. Peixes exibem uma infinidade de comportamentos e, quanto mais se conhece, mais eles se tornam interessantes”, reiterou.
Conforme Sabino, dada a enorme gama de espécies, os peixes não devem ser vistos apenas como alimento, pois, além de servirem como provisão e medicamentos, há ainda o valor cultural.
“[Os peixes] proporcionam lazer, ecoturismo, pesca, e seu valor de regulação ambiental, realizando dispersão de sementes e controle de pragas, por exemplo”.
Por esses motivos, Sabino acredita que o Aquário do Pantanal, que deve ser inaugurado até o fim deste mês em Campo Grande, será uma poderosa ferramenta de educação científica.
“Poderá exibir a beleza e a exuberância de nossa ictiofauna. E, claro, sensibilizar a sociedade para a importância dos peixes e dos seus ambientes preservados”, finalizou o especialista.
Fonte:CE