Esquecer a correria da semana e aventurar-se na natureza é uma atividade popular entre os sul-mato-grossenses, que costumam praticar trekking — como as trilhas são chamadas — aos fins de semana. Por aqui, são inúmeras as possibilidades de turismo de aventura, desde percursos em matas nativas a lavouras que escondem cachoeiras.
São diversas opções pertinho de Campo Grande, como as cachoeiras de Furnas do Dionísio, a Trilha da Usina Abandonada no córrego Ceroula, Cachoeiras do Ceuzinho e do Inferninho, Morro do Ernesto, Trilha da Conquista em Sidrolândia, Trilha da Pintura Rupestre em Rio Negro e muitas outras.
No entanto, as trilhas são aventuras coletivas, não sendo recomendado praticar sozinhos ou com grupos inexperientes. Isso porque, apesar de existirem trilhas bem marcadas, há diversos tipos de dificuldades que podem ser enfrentadas no decorrer do percurso. Além disso, o desaparecimento de uma trilheira na Cachoeira de Los Pagos, em São Gabriel do Oeste, em janeiro — e que ainda não foi encontrada — revela que a prática requer planejamento, segurança e experiência.
Houve também, no mesmo mês, o deslizamento de uma rocha do cânion do Lago de Furnas, atração turística do município de Capitólio, em Minas Gerais, que resultou em 10 vítimas fatais ao despencar e atingir lanchas que transportavam diversos turistas no local.
A partir desses acontecimentos, desperta-se o alerta e discute-se acerca de medidas de segurança para as atividades de turismo e aventura no Estado. Afinal, explorar as belezas do Mato Grosso do Sul deve ser sempre com segurança e tranquilidade.
Normas de segurança
Sobre o tema, o presidente da FundTur (Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul), Bruno Wendling, esclarece ao Jornal Midiamax que trilhas ou qualquer outra atividade do setor de Turismo de Aventura em MS oferecidas pelas agências e empresas de turismo devem seguir as Normas Técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), determinadas para garantir a segurança dos turistas durante a atividade. Tais regras de conduta das empresas incluem competência pessoal dos condutores, implementar um sistema de gestão da segurança e oferecer informações básicas aos turistas antes da prestação de serviço, por exemplo.
“São mais do que orientações […], as empresas de turismo no Estado devem seguir essas normas”, reitera o presidente. Bruno também explica que alguns empreendimentos, inclusive, possuem a certificação de respeito às normas, disponibilizado pela Abeta (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura).
A FundTur recomenda que os turistas conheçam os locais das trilhas, estejam atentos ao nível de dificuldade das trilhas e optem pelo grau de dificuldade da atividade de acordo com sua disposição física, além do consumo de água, uso de vestimenta confortável e acompanhamento de supervisores especializados. Contudo, a fundação adverte que todas as empresas de turismo e aventura devem oferecer instruções e mais informações aos participantes da trilha — por isso, é importante ficar atento.
Acerca de situações de risco e possíveis acidentes, o presidente da FundTur informa que não há dados sobre suas ocorrências ainda no Estado, mas reforça que “quando a agência segue as normas, o risco é 0”.
Guias experientes
De acordo com o sócio-proprietário da Trilha Extrema e auditor do Sistema de Gestão de Segurança para Turismo de Aventura, Cristevan Frederico Corrêa, o indicado é sempre procurar uma empresa especializada em trilhas ou turismo, por terem experiência e conhecimento suficientes das regiões.
“Caso a pessoa não queira ir com uma empresa, de repente quer ir com um grupo de amigos, da mesma forma, sempre procure um profissional, uma pessoa que conheça bem a região, para não correr o risco de se perder”, orienta o auditor, que ainda afirma que apesar das trilhas serem perto da cidade, o risco de se perder é o mesmo. “Tem mapa fechado, tem risco de acidente, então essa preocupação tem que sempre estar constante”, ressalta.
Cristevan Frederico alerta que, apesar das belezas que Mato Grosso do Sul oferece, também existem riscos como ataque de animais — não somente os peçonhentos, mas, também, os porcos-do-mato e onças, sobretudo em regiões pantaneiras, e entre outros. Por este motivo, é importante tomar alguns cuidados como o acompanhamento de uma empresa especializada, uso de equipamentos e roupas adequadas para evitar situações de desconforto.
Existe seguro
A maioria das empresas que atuam em Campo Grande inclui no preço final um seguro que garante ressarcimento no caso de acidentes. Essa apólice é temporária, válida apenas para sinistros ocorridos durante o percurso.
“Acho que ninguém pode abrir mão […]. Não se justifica você fazer uma atividade de aventura sem ter um seguro, até porque a Lei Geral do Turismo pede isso para as empresas, para cobrir acidentes e até mesmo situações graves de morte ou invalidez. Então, o seguro hoje não é uma opção, mas sim uma obrigação e uma segurança para o participante”.
Acidentes durante trilhas, a propósito, apesar de raros em MS, podem ocorrer. “Já tivemos pessoas que tiveram fraturas, torção, e que precisaram de resgates. Pessoas que foram picadas por animais, que sofreram queda… A gente já teve várias situações de acidentes aqui no Estado […], mas o índice aqui em MS é bem pequeno dado a outros estados que a gente vem acompanhando”, diz. “Por este motivo, é importante sempre optar por acompanhamento profissional nestes passeios”, acrescenta.
Em relação ao número de desaparecimentos, Cristevan relata que já houve outros casos aqui em MS e esclarece que isso geralmente acontece com pessoas que decidem fazer a trilha por conta e sem acompanhamento especializado. No entanto, ele explica que a busca por uma prática de turismo no Estado de forma mais segura é constante.
“A gente está tentando, brigando para que o nosso Estado seja uma referência, porque a gente tem Bonito — que é uma referência em segurança para as atividades de aventura. Por que não estender isso para todo o Estado? A gente precisa que as empresas, os atrativos, as propriedades rurais que recebem as pessoas, tenham um sistema de segurança implementado para minimizar o máximo possível o risco de acidente para as pessoas”.
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Fonte: MM