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Estudante aciona PM para professora que “falou mal” do agronegócio em escola de Bonito

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Professora de geografia da Escola em Bonito, teve uma aula gravada por uma aluna no dia 19 de novembro. As imagens foram compartilhadas com a Polícia e com a prefeitura da cidade.

Segundo o site O Joio e o Trigo, no dia seguinte à gravação da aula, a professora foi chamada pela direção da escola e informada que uma aluna havia gravado a apresentação.

O pai da estudante denunciou a docente ao prefeito da cidade, Josmail Rodrigues (PSB), que, através da Secretaria de Educação, procurou a escola para pedir explicações sobre o conteúdo apresentado aos alunos.

O responsável pela garota disse que se sentiu prejudicado e que a professora “menosprezou o agronegócio”, além de mencionar o fato da educadora ser casada com um indígena, o chamando de “cacique”.

No material ministrado aos alunos, estava a matéria “Os números mostram: agronegócio recebe muitos recursos e contribui pouco para o país”, publicada pelo site em outubro desse ano.

Acusação de militância

Uma página em uma rede social que fala sobre a cidade divulgou uma mensagem que dizia “tem prof geogragia fazendo militância nas escolas, falando mal das empresas dak (daqui) e agronegócio”.

No dia 26 de novembro, uma semana após o ocorrido, a professora pediu para que os alunos da turma onde foi gravada, guardassem os celulares. Na terceira vez que fez o pedido se dirigindo à aluna que registrou as imagens, a menina saiu da sala sem autorização.

Quando a aula terminou, a educadora foi informada que a Polícia Militar estava na escola a pedido da menina, alegando que a professora a teria “coagido”.

A ligação para a PM foi orientada pelo vice-prefeito de Bonito, Juca Ygarapé. Um dos policiais acionados participou da reunião entre a direção e a família da estudante.

“É uma interferência muito grande na autonomia do professor em sala de aula”, afirma a docente, que leciona nas turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental.

Ela destacou, ainda, a menção do pai da garota quanto ao companheiro dela ser indígena.  “Racismo, discriminação e aversão aos povos indígenas e suas culturas”.

Censura

Na análise da Coordenadora Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Andressa Pellanda, sobre o caso é que houve “um misto de censura, coerção à liberdade de cátedra e da garantia plena do direito a uma educação crítica”.

Ainda de acordo com Andressa, “verificamos o uso do Estado para esse tipo de censura e de avanço do interesse privado sobre o público, quando utilizam a Secretaria de Educação como canal para chegar à pressão na escola, junto à professora”.

O episódio se assemelha ao ocorrido em diversos Estados do país, como o da professora na Bahia, que foi intimidada pela Polícia após uma aluna denunciar “conteúdo esquerdista”.

Para a coordenadora, a situação é o resultado “dos avanços do conservadorismo no país e, pior, da legitimação da violência por parte do governo federal e de outros governos subnacionais aliados”.

O caso que envolveu a professora em Bonito deve ser levado à Corregedoria da PM e, também, a judice, segundo Andressa. “Já que é um caso que precisa ser analisado quanto ao autoritarismo, intimidação, intervenção em um espaço e ação pedagógica e de defesa de interesse privado. Ainda, é necessário que a professora seja colocada em uma situação de proteção contra potenciais escaladas de ameaças e violências contra ela”.

Apoio do Sindicato

A professora pediu apoio ao Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação (Simted) de Bonito e à Federação dos Trabalhadores em Educação do Mato Grosso do Sul (Fetems).

Ao jornal, o presidente da Fetems, Jaime Teixeira, destacou que no dia 15 de dezembro será lançada uma moção de repúdio ao “setor organizado que segue defendendo a lei da mordaça”, no Mato Grosso do Sul, se referindo ao projeto “Escola sem Partido”, que defende a ideia de um “ensino neutro”.

De acordo com o presidente, esse não é o único caso envolvendo censura. “Houve mais dois casos”, afirmou.

“Queremos uma escola laica, democrática. E esses casos também demonstram machismo”, afirma ele, que disse que a federação está à disposição para dar apoio jurídico à professora.

 

Fonte:Topmidianews

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