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Com 460 clínicos em MS, setor espera mudança após pandemia

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A falta de médicos especializados em Clínica Médica no sistema de saúde público sempre foi um problema crônico no País.

Segundo o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS), dos 7.238 médicos ativos no Estado, apenas 460 atuam como clínicos gerais – por volta de 6,3% do setor.

No entanto, com a crise sanitária imposta pela Covid-19, o presidente do Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul (Sinmed-MS), Marcelo Santana Silveira, acredita que haverá mudanças no mercado de trabalho na área da saúde em um cenário pós-pandemia, com maior valorização e interesse por essa especialidade geral.

“Com a abertura de novas vagas de clínica médica, muitos profissionais não estão fazendo subespecialidades e acabam atendendo principalmente em unidades ambulatoriais”.

“Acredito que no pós-pandemia haverá um reajuste no mercado de trabalho e parte dos médicos vão se dedicar mais aos ambulatórios nas Unidades Básicas de Saúde e em atendimentos de clínica médica”, afirmou.

De acordo com o diretor-presidente do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS), Lívio Leite, a especialidade de Clínica Médica foi sendo renegada ao longo dos anos por conta do baixo salário inicial, o que não atrai recém-formados.

“A residência em Clínica Médica acaba não sendo tão procurada pelos formandos por ser uma especialidade de menor remuneração, mas eu imagino que esse perfil tende a mudar ao longo dos anos”, disse.

Para Leite, os médicos especialistas em Clínica Médica serão os profissionais que vão assumir os casos de coronavírus e pós-Covid-19.

“Com a pandemia, entendemos e identificamos que os especialistas em Clínica Médica vão acabar assumindo os pacientes tanto de Covid-19, no seu manejo, quanto no pós-Covid-19, pelas sequelas. Então, eu acredito que poderá haver uma maior procura no mercado por esses especialistas, já que a Covid-19 não deve nos deixar tão cedo”, salientou.

Saúde da Família

Ao Correio do Estado, o secretário municipal de Saúde, José Mauro Filho, afirmou que, após anos com deficit de médicos, Campo Grande mais que dobrou sua cobertura de atenção primária entre 2019 e 2021.

“A nossa preocupação principal era repor o quadro de funcionários. Nós tínhamos perdido mais de mil profissionais de saúde, principalmente médicos”, disse.

Conforme o secretário, a Capital realizou o maior concurso público na área da saúde em agosto de 2019.

“Contratamos mais de 1,5 mil médicos de lá para cá, fizemos a residência médica de Saúde da Família e multidisciplinar, com seis profissões fazendo residência médica, todos com bolsas do Ministério da Educação [MEC]”, salientou.

De acordo com José Mauro Filho, atualmente, Campo Grande possui a maior residência de Saúde da Família do País.

Como consequência, a cobertura de atenção primária à saúde passou de 33% para 75% em dois anos, um salto do 27º lugar no País para a 8ª colocação, conquistada em 2020.

Concorrência

Conforme o diretor-presidente do HRMS, a medicina no Brasil tem formado cada vez mais profissionais, e, como consequência, isso tem reduzido muito as vagas de residência médica.

“Além disso, nós fomos criando subespecialistas cada vez em maior grau, a ponto de termos ortopedistas especialistas apenas em mãos, oftalmologistas subespecialistas apenas em retina, por exemplo”, pontuou.

De acordo com Leite, haverá cada vez mais profissionais competitivos em busca de uma vaga de residência.

“Porém, essa formação geral é uma especialidade que tem tido maior procura, principalmente, na residência de Saúde da Família, algo inusitado há um tempo atrás”, disse.

O diretor-presidente afirmou ainda que o profissional de atenção básica das unidades de saúde continuará a ser muito requisitado pelo setor público.

“A formação do médico generalista vai, no meu ponto de vista, retomar esse mercado ao longo do tempo. Os especialistas sempre serão necessários, mas a formação geral será também muito significativa”, explicou.

O deputado federal e médico Luiz Ovando (PSL) também defendeu a especialidade médica, que, para ele, é essencial no tratamento de pacientes. Ovando fundou a residência em Clínica Médica na Santa Casa, em 1998.

“O atendimento está muito mecanizado. Perdemos o elã, a espontaneidade. O médico tem se distanciado do paciente. Estamos apegados a exames apenas, deixando de colocar a mão no paciente”, afirmou.

Residência

A residência de Clínica Médica é de acesso direto, ou seja, não exige pré-requisito e tem duração de dois anos, com carga horária de 60 horas semanais. São ofertadas em torno de 3.200 vagas/ano de residência para esta especialidade.

A Clínica Médica é pré-requisito para todas as subespecialidades clínicas, exceto Dermatologia e Neurologia.

Dados da pesquisa Demografia Médica realizada em 2020 pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CRF), revelam que, de 44.658 profissionais, o Centro-Oeste possui um quadro com 36,4% dos seus médicos especialistas em Clínica Médica, por volta de 16,2 mil pessoas.

Em relação à faixa etária, dos médicos com idade entre 30 e 60 anos, 71,9% deles são especialistas.

Os generalistas são maioria na faixa que vai até 29 anos, período em que os recém-graduados ainda cursam programas de Residência Médica ou optam por exercer a profissão sem especialização. Nesse grupo, 81,8% não têm título de especialista.

Na faixa de 30 a 34 anos, 57,2% possuem título de especialista. Entre os profissionais que têm entre 45 e 49 anos, 79,9% são especialistas.

 

 

Fonte:CE

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