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Bonito supera restrições da pandemia, implanta protocolos de biossegurança e ganha reconhecimento internacional

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Bonito, cidade de 22,4 mil habitantes, no sudoeste de Mato Grosso do Sul, é um dos principais polos turísticos do estado e do país. O setor é tão bem organizado que o município conquistou por 16 vezes o título de “Melhor Destino de Ecoturismo” do Brasil. Mas em 2020, em razão da pandemia de Covid-19, teve que suspender todas as atividades do setor por mais de três meses, entre março e junho.

O setor, que vivia um ótimo momento, sofreu com a suspensão das atividades. Corte de gastos, revisão de despesas e até demissões entraram na pauta. As adversidades afetaram também o município, que tem no turismo uma de suas principais atividades econômicas, mas acabaram estimulando ainda mais a união entre o trade turístico, o Poder Público e várias instituições e entidades que estão presentes na cidade.

Em parceria foram elaborados protocolos de biossegurança específicos para cada atividade turística, o que possibilitou a reabertura do setor. A dedicação e empenho na implementação nas normas foi tão grande que rendeu no início de 2021 ao município o reconhecimento do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), que atribuiu a cidade o selo “Safe Travel”, coroando as medidas de biossegurança implantadas para assegurar a prevenção ao novo coronavírus.

 — Foto: Anderson Viegas/G1 MS

Bonito é referência mundial em ecoturismo. Rios de águas transparentes, cachoeiras, grutas e cavernas. Fauna e flora exuberantes, com centenas de espécies de aves, mamíferos e répteis ocupando uma vegetação que mistura o Cerrado com a Mata Atlântica compõem o cenário da cidade.

O município conta com cerca de 40 atrativos, que possibilitam aos visitantes várias opções de atividades. Os interessados em contemplar as belezas da região podem, por exemplo, visitar as grutas e tomar banho em cachoeiras e rios de águas cristalinas.

Já os amantes da aventura podem percorrer trilhas no solo ou circuitos nas árvores (arvorismo), descer trechos dos rios fazendo flutuação ou em botes, boias (boia cross), pranchas (stand up paddle surf) ou caiaques infláveis (duck), ou ainda passear de quadriciclo, a cavalo (cavalgada) ou de bicicleta. Para os mais radicais também não faltam opções, como o rapel e os mergulhos em rios e lagoas.

E para conciliar a exploração sustentável de todos esses atrativos com a viabilidade econômica, foi criado em 1995, em um processo coletivo do Conselho Municipal de Turismo o “voucher unificado”. A visitação aos atrativos ocorre por meio da aquisição, somente nas agências de turismo, deste “passaporte” para os passeios. Por meio dele é remunerada toda a cadeia produtiva do turismo no município, desde os guias até os empresários, e também é assegurado que será respeitado o limite de visitações.

Segundo a secretária municipal de Turismo, Indústria e Comércio de Bonito, Juliane Salvadori, organizado desta forma, o turismo é responsável por 45% do PIB da cidade e injeta aproximadamente R$ 300 milhões por ano na economia local.

Em 2019 (último ano antes da pandemia), ela conta que Bonito recebeu 209,5 mil turistas – quase dez vezes a sua população. Explicou que para atender essa quantidade de visitantes, o município conta com rede aproximadamente 478 empresas no trade turístico – a maior parte micro e pequenas empresas e microempreendedores individuais – MEIs). Juntos esses empreendimentos empregam mais de 2 mil pessoas, cerca de 44% da força de trabalho do município.

O impacto

Efeito da pandemia sobre o setor de turismo em Bonito - MS — Foto: Anderson Viegas/G1 MS

“Tudo aconteceu de forma muito rápida. Eu me lembro como se fosse hoje. Era uma terça-feira quando começou a se falar de pandemia e uma semana depois, os próprios empreendimentos se anteciparam e pediram [a prefeitura] pelo fechamento. Então, os empresários decidiram fechar mesmo antes da Covid estar em Bonito”, recorda a diretora da agência H2O Ecoturismo, Kassilene Vieira Carneiro Cardadeiro.

O primeiro caso de Covid-19 em Mato Grosso do Sul foi confirmado pela secretaria estadual de Saúde (SES), no dia 14 de março de 2020. Três dias depois deste caso (17), decreto da prefeitura de Bonito (064/2020) suspendeu as visitas a gruta do Lago Azul e ao balneário municipal e recomendou aos atrativos privados que adotassem medidas de prevenção. No dia seguinte, 18 de março, todos os alvarás de localização e funcionamento de atrativos, meios de hospedagem foram suspensos por outro decreto (067/2020), assim como proibida a entrada de veículos transportando turistas a restringida o embarque e desembarque de pessoas na rodoviária.

O primeiro registro de pessoa infectada com o coronavírus em Bonito ocorreu quase dois meses depois, em 7 de maio do mesmo ano. Somente no dia 17 de junho, a reabertura de atrativos públicos e privados, meios hotéis, pousadas, albergues, campings, casas de aluguel, flats, foi autorizada por outro decreto (143/2020), assim como a retomada do transporte de turistas e o serviço normal na rodoviária da cidade. Autoriza a abertura ocorreu efetivamente somente em julho e desde que os empreendimentos seguissem os protocolos de biossegurança de cada setor.

“O impacto foi muito grande. Três meses fechados sem nenhum turista na cidade. Hotéis fechados, agências fechadas, foi um período realmente muito difícil”, comenta a secretária municipal de Turismo.

Rosanne Simões Pedroso, proprietária da agência Viva Bonito – que recentemente conquistou o Prêmio Piraputanga, conhecido como “Oscar do Turismo” no estado na categoria Agência – recorda das dificuldades enfrentadas no período. “Foi um susto muito grande. Não se tinha previsão para retomada e não houve um preparo para enfrentar a situação”.

Ela conta que para manter o negócio em meio a paralisação fez um grande corte de custos e reduziu a folha salarial. “Evitei ao máximo as demissões. Tive uma só. Os outros colaboradores eu mantive. Adotei a flexibilização para o pagamento dos salários. Não chegou a virar o mês, mas teve. Fiz o que pude para manter a equipe”.

Por sua vez, Kassilene Cardadeiro, diz que logo no início da pandemia teve que demitir alguns funcionários e se beneficiou do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, do governo federal, o que possibilitou a redução de jornada ou que alguns dos colaboradores recebessem parte dos salários pelo governo federal. Além disso, ela conta que teve de fazer várias ações internas para diminuir as despesas da empresa.

A estimativa do Observatório do Turismo de Bonito é que entre março e julho de 2020, 506 pessoas que trabalham no setor – 25% do total de empregados, foram demitidas. O pior mês foi abril, com 261 desligamentos. “Foi muito impactante, ainda mais porque Bonito é uma cidade pequena e depende muito do setor”, recordou a secretária de Turismo.

A união, os protocolos e a esperança

A diretora da H2O Ecoturismo recorda que logo depois que as atividades turísticas foram suspensas no município, ainda em março de 2020, que as empresas do trade turístico já começaram a se reunir com algumas instituições cidade, com as do “Sistema S – Sebrae/MS, Senac/MS e SESI/MS”, para discutir como é que seria a retomada. “Uma coisa que é bem característica de Bonito é a organização. Então, antes da pandemia nós já tínhamos o controle dos grupos de visitação. O que hoje se fala tanto, em Bonito já existia. Então, nos reunimos para entender o que mais seria feito dentro de um controle que já existia. Acabamos sendo favorecidos neste sentido, porque já existia uma organização prévia. Discutimos durante esse período em que ficou fechado e quando reabriu [o setor], já reabriu com o protocolo todo organizado”.

O gerente da regional Oeste do Sebrae/MS, Matheus da Silva Oliveira, conta que além das entidades do “Sistema S” participaram das discussões para a elaboração dos protocolos o Instituto de Desenvolvimento de Bonito (IDB), a Associação dos Atrativos Turísticos de Bonito e Região (Atratur), o Conselho Municipal de Turismo (Comtur), a secretaria municipal de Turismo, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel Serra da Bodoquena), Associação Bonitense de Hotéis (ABH) e Associação de Guias de Turismo de Bonito (AGTB) e Associação das Agências de Turismo de Bonito (Abaetur).

As reuniões para discutir o plano de retomada eram feitas por meio da internet e elas resultaram na criação do programa Bonito Seguro, com protocolos de biossegurança para sete segmentos: agências de turismo, alimentos e bebidas, atrativos, comércio, guias de turismo, hospedagem e transportes. “Para cada um dos segmentos elaboramos protocolos que respaldassem a retomada das atividades com o máximo de segurança possível. Então, preservando a saúde e a segurança de empresários, trabalhadores e visitantes e também a dos empreendimentos”, ressalta.

Gerente da regional Oeste do Sebrae/MS, Matheus da Silva Oliveira, — Foto: Reprodução/G1 MS
Gerente da regional Oeste do Sebrae/MS, Matheus da Silva Oliveira, — Foto: Reprodução/G1 MS

O gestor em alimentação do hotel Marruá e vice-presidente da Abrasel Serra da Bodoquena, conselheiro do Comtur e membro do Comitê de Enfrentamento da Covid em Bonito, Sylvio Trujillo, conta que a implementação dos protocolos teve dois desafios no seu empreendimento. O primeiro foi o de fazer a equipe entender a necessidade do uso dos equipamentos de biossegurança.

“Fazer entender que em uma cidade em que o verão chega a 42ºC é necessário todo o aparato de segurança para transportar a roupa dos apartamentos para a lavanderia, em uma logística quase que hospitalar. O serviço de lavanderia que já é um ambiente quente, fazê-los entender que sim, que você tem de usar aqueles equipamentos e isso logo na abertura”, explica.

A outra dificuldade foi em relação aos hóspedes, por conta de aspectos culturais. “Nós brasileiros nunca lidamos muito bem com o controle. Somos um povo livre, que sempre teve muitos direitos e pouquíssimos deveres. Então, fazer o turista entender que nas dependências do hotel ele tem sim de usar uma máscara. Que acabou, em um primeiro momento, toda aquela coisa glamorosa do café da manhã no hotel. Que para tomar o café ou ele toma no quarto ou toma com horário agendado e com buffet assistido, em que a pessoa serve você é difícil demais. Nós, profissionais de hotelaria, de alimentação, de turismo em geral sofremos com isso. Com essa falta de entendimento do brasileiro em relação as necessidades de controle neste momento”, analisou.

A secretária de Turismo de Bonito aponta como outro obstáculo enfrentado pelas empresas em relação a implementação dos protocolos, foi a dificuldade financeira que algumas delas já estavam atravessando. “Primeiro que elas já estavam sem visitação. As empresas estavam sofrendo porque não tinham turistas e nem dinheiro em caixa. Estavam passando por diversas dificuldades e os protocolos demandavam investimento. Seja em outros tipos de equipamentos, em cuidados com os colaboradores e na limpeza com equipamentos, quartos e nos atrativos. Então foi necessário um empenho muito grande para superar essa fase e implementar os protocolos”.

O gerente do Sebrae conta que para auxiliar as empresas nesta etapa, foram realizadas várias rodadas de negócios para facilitar a aquisição desde equipamentos de proteção individual (EPIs) para os funcionários dos empreendimentos trade até para atender outras necessidades dos estabelecimentos.

“Após todos os protocolos construídos fizemos consultorias gratuitas de biossegurança. Fizemos um trabalho bem intenso com todos esses segmentos contemplados, para que todos tivessem a compreensão e entendessem como funcionam. Os estabelecimentos que seguiam 100% das normas recebiam um selo e um certificado dentro do programa”, relata.

Matheus Silva diz que o programa já teve três grandes ciclos. O primeiro voltado para o processo de sensibilização e consultoria. O segundo focado em atender as empresas e conscientizar os turistas e o terceiro com um reforço dos protocolos, que foi realizado no início de 2021 e aplicação de uma nova série de consultorias voltadas a sustentabilidade. Com essas três etapas alcançou 2.413 empresas, sendo 693 com consultorias sobre os protocolos de biossegurança. Atualmente o trade pediu a revisão dos protocolos para adequá-los a nova realidade da pandemia, já que o estado e Bonito registram uma grande redução de casos de Covid.

Protocolos

Pagina do programa Bonito Seguro, com os protocolos de biossegurança implementados na cidade — Foto: Reprodução/G1 MSOs protocolos são documentos com orientações sanitárias e operacionais que norteiam a abertura e o funcionamento de cada um dos setores do trade turístico de Bonito. Os textos são públicos e estão disponíveis em uma página do programa na internet (para acessar clique aqui!). O documento de cada segmento é referendado pela sua respectiva entidade de classe.

O dos atrativos turísticos, por exemplo, tem 31 páginas e aborda desde as responsabilidades do empregador até a destinação e tratamento do lixo, passando pelos procedimentos para atendimento ao visitante em cada tipo de atrativo. Nas atividades aquáticas, o que inclui banhos em balneários – que estão entre as mais comuns em Bonito, estipula, por exemplo:

  • Durante o deslocamento até o início da atividade, todas as pessoas deverão utilizar máscaras protetoras faciais.
  • As máscaras deverão ser retiradas imediatamente antes da entrada na água, e recolocadas imediatamente após a saída da água.
  • Obrigatória a higienização das mãos com álcool líquido ou gel a 70% antes de qualquer contato com o cliente e imediatamente após, mesmo que não haja atendimento de outro cliente na sequência – durante os deslocamentos, equipagem e desequipagem dos clientes.
  • Uso obrigatório de máscaras protetoras faciais com nível de proteção alto/muito alto por todas as pessoas (condutores e clientes) durante toda a atividade.
  • Dentro do possível, manter distanciamento de 1,5m (um metro e meio) entre pessoas durante a realização das atividades.
  • Uso obrigatório de toucas descartáveis sob os capacetes e higienização dos capacetes, entre usos, com álcool líquido 70% (quando a atividade requerer uso de capacetes).
  • Obrigatória a higienização das mãos com álcool líquido ou gel a 70% antes de qualquer contato com o cliente e imediatamente após, mesmo que não haja atendimento de outro cliente na sequência.

 

Fonte:G1MS

 

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