Eventos climáticos como a seca prolongada, a queda de granizo e a ocorrência de geadas já geram prejuízos econômicos em toda a cadeia produtiva de Mato Grosso do Sul. Conforme modelos agroclimáticos, o Estado enfrenta em média 36 dias de estiagem agrícola.
Como consequência há queda na produção de milho, redução da oferta de proteínas animais e consequentemente aumento dos preços de alimentos ao consumidor final.
Em decorrência da falta de chuvas e da previsão de um período ainda mais seco pelos próximos meses, o governo do Estado declarou situação de emergência por conta da seca, das geadas, da estiagem e das queimadas com vigência de 180 dias.
Segundo o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, a situação de emergência possibilita ao produtor rural acionar o seguro rural ou mesmo pedir reparcelamento de dívidas.
“Os impactos econômicos foram significativos para os produtores nos municípios afetados pela geada e por isso que nós fizemos esse processo de declarar emergência em relação à estiagem e à geada. Isso possibilita aos produtores entrar junto ao sistema financeiro pedindo uma repactuação das suas dívidas relacionadas a essa atividade [rural]”, avalia.
“Não estamos falando de uma seca momentânea. Desde o ano passado, tivemos a seca no período do plantio da soja culminando no atraso da semeadura do milho também. Além disso, nós tivemos perdas econômicas significativas do Estado em função das geadas”, completa Verruck.
A região Centro-Oeste está em alerta de crise hídrica no período compreendido entre junho e setembro. Outra mudança climática que preocupa o setor produtivo é a chegada de uma nova frente fria.
O Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec) fez um alerta de previsão de geada em MS até amanhã. A chuva que antecede a geada é que preocupa os produtores.
“A chuva enfraquece a planta, que já sofreu com a última geada, que foi mais rigorosa do que a que vem agora”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MS), Andre Dobashi.
Conforme o Cemtec, a chance de geada mais forte é para a região sul do Estado, mas o frio não será tão intenso quanto o registrado entre 28 de junho e 1° de julho, que afetou uma área de 420 mil hectares, o que corresponde a 30,2% da área cultivada em MS.
As lavouras de milho do Estado têm enfrentado as maiores perdas por causa das intempéries climáticas. Conforme já adiantado pelo Correio do Estado, a estimativa da produção do milho safrinha tem o pior resultado da série histórica.
Dados do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga-MS) apontam que a projeção para 2020/2021 foi revisada para 6,28 milhões de toneladas. A menor colheita registrada desde o ciclo 2013/2014 quando as lavouras começaram a ser monitoradas.
“Saímos de uma estimativa inicial de produção de 9 milhões de toneladas no Estado, em função da estiagem revisamos para em torno de 8 milhões e na sequência tivemos uma forte geada que reduziu essa previsão para 6,2 milhões de toneladas”, analisa o secretário.
Para Verruck, a oferta do milho e os preços preocupam, tanto do ponto de vista das exportações quanto o consumo interno.
“Essa demanda crescente vai impactar na manutenção dos preços mesmo durante o período safra. Obviamente que agora com a safra vai cair o preço do milho, mas os patamares de quedas serão bastante inferiores do que seria normal”, diz.
“Temos uma pressão imediata em custo tanto de suíno quanto aves e bovinos dado que o milho é um dos principais componentes da ração animal. A tendência é de que a gente tenha uma elevação de preço final”, completa.
PECUÁRIA
Além da alta nos preços e a redução da oferta de milho, as pastagens também foram danificadas com a seca e geada. A pecuária é outro setor que já percebe o impacto do clima na produção.
O presidente do Sindicato Rural de Campo Grande (SRCG), Alessandro Coelho, aponta que todas as regiões sofreram bastante com o clima.
“É um ano atípico e a pecuária acaba de sair de uma crise de cinco anos. Esperávamos um ano muito bom e já temos um grande prejuízo nesse início de ciclo. A quebra na safra de milho vai repercutir na criação de gado, porque o cereal é a fonte mais eficiente para a produção de proteína animal”.
Segundo a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), o Estado produziu 1,72 milhão cabeças de gado para abate no primeiro semestre de 2021. Queda de 8,17% ante os 1,87 milhão nos mesmos meses em 2020.
“A oferta de bovinos para o abate já estava reduzida e assim segue. A geada danificou ainda mais as pastagens, agravando os efeitos da seca, quando a qualidade dos pastos é naturalmente inferior. No médio prazo, a disponibilidade de animais prontos ao abate continuará apertada, mantendo os patamares de preços atuais”, avalia a analista técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul), Eliamar Oliveira.
O secretário ainda ressalta que a produção influencia diretamente na escala de abates dos frigoríficos. “Podemos ter paralisação de algumas plantas em função da não disponibilidade bovina, como recentemente aconteceu na cidade de Coxim. Principalmente em função dos impactos adicionais que a geada estabeleceu nas pastagens”, analisa Verruck.
A oferta enxuta de animais não possibilita que os preços do gado caiam. No comparativo com o ano passado, a arroba do boi aumentou 50,87%, saindo de R$ 205,80 em 2020 para R$ 307,69 no mês vigente. Já a arroba da vaca valorizou 55,13%, custando R$ 293,75 em 2021 ante os R$ 190,13 no ano anterior.
“As bolsas vêm apontando para novas altas nos preços [da arroba] para o mercado futuro. Hoje, o boi a pasto não conseguiu terminar o ciclo e com essa estiagem antecipou-se o confinamento”, diz Coelho.
“Os custos para os produtores subiram muito, mesmo que a arroba suba a gente não espera que venha a cobrir esse custo. Com certeza, algum reflexo vai chegar ao consumidor”, finaliza.
CANA E EUCALIPTO
Outras culturas afetadas diretamente pelo clima foram o eucalipto e a cana-de-açúcar. Hoje, os produtos florestais aparecem como o 2º item da pauta de exportações do Estado, com 23,3% do total.
O secretário ressalta que toda atividade precisa de chuvas e consequentemente outras culturas são afetadas com a estiagem.
“Na região toda de eucalipto, nós temos exatamente a seca com alto risco de incêndios, mas ainda a gente não tem identificado qual o tamanho dos impactos efetivamente. Algumas florestas estão sendo plantadas com irrigação, mas em função da seca podemos ter alguma necessidade de replantio”, afirma Verruck.
Outra cultura importante é a da cana-de-açúcar, que foi altamente impactada com a geada. “Isso implica uma necessidade de antecipação de colheita para não perder ainda mais o teor de açúcar da cana. Então, aquela que estava brotando acaba tendo impacto de queima e tem de ser replantada”, finaliza Verruck.
Fonte:CE