As construções do futuro maior telescópio do mundo começaram, após quase 30 anos do início de seu planejamento. Chamado de Square Kilometre Array, o observatório terrestre será capaz de monitorar e fornecer dados mais detalhados sobre a formação e a evolução do Universo em uma escala sem precedentes, com possíveis informações que devem gerar desdobramentos em diversas áreas científicas, como Astrofísica e Cosmologia.
A expectativa é a de que contribua para o conhecimento científico por pelo menos 50 anos. Suas imagens terão resolução muito superior à do telescópio espacial Hubble e chegarão mais rapidamente. A decisão que validou a construção aconteceu por conta da criação de uma organização intergovernamental, denominada SKA Organisation (SKAO), responsável por todo o desenvolvimento e a atuação futura da complexa rede.
O observatório poderá detectar objetos tão distantes que levariam cerca de 13 bilhões de anos para alcançar a Terra e contará com duas instalações separadas no planeta, localizadas na África do Sul e Austrália. Esses sítios, designados SKA-Mid e SKA-Low respectivamente, captarão sinais de rádio na faixa de frequências entre 70 MHz e 25 GHz, cobrindo uma área total de coleta de um quilômetro quadrado.

Na África do Sul, especificamente no deserto Karoo, 133 antenas parabólicas de 15 metros de altura cada serão adicionadas às 64 já existentes do telescópio prercursor, o MeerKAT, em uma área superior a 150 quilômetros. Já na Austrália, de início serão colocados 131.072 discos de antenas no norte da cidade de Perth, mas sua capacidade poderá abrigar até 1 milhão dos aparelhos.
A construção dos dois telescópios e de suas operações relacionadas ocorrerá entre 2021 e 2030, com as maiores atividades previstas para o ano que vem, estendendo-se até 2028. Seu custo é estimado em 2 bilhões de euros, com 1,3 bilhão para a construção e 700 milhões para os primeiros 10 anos de trabalhos.
“Estou em êxtase. Esse momento levou 30 anos de trabalho. Hoje, a humanidade está dando outro salto gigante ao se comprometer a construir o que será a maior instalação científica desse tipo no planeta; não apenas uma, mas as duas maiores e mais complexas redes de radiotelescópios, projetadas para desvendar alguns dos segredos mais fascinantes do nosso Universo”, disse Philip Diamond, diretor-geral da SKAO, em comunicado da European Astronomical Society (EAS).
“Gostaria de agradecer a todos que contribuíram para tornar isso possível ao longo das últimas décadas, desde o início do projeto até agora e, em particular, a todas as equipes que trabalharam tanto nos últimos anos mesmo em uma circunstância muito difícil, que é a pandemia, para cumprir prazos e tornar esse marco possível”, adicionou Catherine Cesarsky, presidente do conselho da SKAO.

“Também gostaria de agradecer aos países membros envolvidos, por sua visão e pela confiança que estão depositando em nós ao investir em uma infraestrutura de pesquisa de larga escala e longo prazo durante um momento em que as finanças públicas estão sob intensa pressão”, Cesarsky completou.
Um esforço global
O Square Kilometre Array foi desenvolvido através de 11 consórcios internacionais, que representam mais de 100 instituições ao redor do mundo. Empresas privadas, universidades e laboratórios de pesquisa projetaram toda a infraestrutura necessária para abrigar as redes de antenas, bem como elaborar sistemas computacionais de software e hardware para armazenar os dados — espera-se que seja necessário criar um novo tipo de computador, com potência 25% superior a qualquer supercomputador existente.
O processo de construção dos telescópios promete trazer outras vantagens além do campo da ciência. Segundo os responsáveis, o trabalho trará benefícios sociais e econômicos para as regiões envolvidas, na forma de retorno financeiro, desdobramentos tecnológicos, geração de empregos — em especial de alta tecnologia — e expansão da capacidade industrial. “Vamos apoiar as comunidades locais e assim impulsionar suas economias”, falou Diamond.
O projeto contou com sete nações signatárias originais: Austrália, China, Itália, Holanda, Portugal, África do Sul e Reino Unido. Além desses, França, Espanha, Suíça, Canadá, Alemanha, Índia, Suécia, Japão e Coreia do Sul estão em negociações finais para fazer parte do grupo. “O compromisso por parte dos estados membros é um forte sinal para que outros embarquem e colham os benefícios da participação nesse centro de pesquisa único”, destacou Cesarsky.
Fonte:TecMundo