“Retiram um animal de 2,5 m e 150 kg da bacia amazônica e o condenam a viver enclausurado em um espaço minúsculo para atração do público!” Com essa exclamação que a protetora de animais Greice Maciel, de 36 anos, postou uma imagem do peixe rodando em círculos no aquário da famosa loja Planeta Real, localizada na Avenida Afonso Pena, em Campo Grande.
A protetora fez a denúncia nas redes sociais nessa segunda-feira (7) e até o momento da publicação da reportagem, já tinha mais de 1,4 mil curtidas. Greice relata que até então não tinha conhecimento de que o peixe é atração na loja, e cita o incêndio que chegou a matar animais que viviam no aquário em 2013. “E o que me espanta é as pessoas acharem isso NORMAL!!!”, diz a postagem.
A protetora é ativista dos direitos dos animais há sete anos e contou que descobriu a existência do aquário por um grupo de veganos da Capital. “Fiquei indignada e fui procurar saber. Algumas pessoas têm alegado que o animal, muito provavelmente, nasceu em cativeiro e que é legal. O meu questionamento é até que ponto, mesmo que seja legal, é eticamente aceitável você explorar um animal que não pertence aquele ambiente, que é minúsculo?”, questiona.
Greice continua a fala dizendo que o animal é retirado de seu ambiente natural para ser criado em cativeiro com fins comerciais e de entretenimento. “Para o nosso egoísmo e capricho. A gente tem que questionar quais direitos esses animais têm e que estão sendo negligenciados até mesmo pela forma da legislação”, pontua.
Imagens gravadas na manhã de hoje mostram o animal nadando no aquário e também é possível ouvir vozes ao redor, indicando a “contemplação” o bicho.
“As pessoas são acostumadas a certos tipos de atitudes que acontecem na nossa sociedade e acabam vendo isso como normal. Já faz parte da cultura, já vem de anos, e às vezes não se questionam”, analisa a protetora.
A repercussão nas redes impressionou e mostrou à Greice que ela não está sozinha nessa. “Fiquei feliz de ver que, de certa forma, não sou só eu que me atento para a importância desse direito do animal de ter espaço adequado”.
A protetora disse que publicou nas redes com o objetivo de levantar o debate e acionar os órgãos competentes. “Mesmo que não seja possível para o Pirarucu voltar para o ambiente, que seja revisto um lugar mais apropriado para ele”, diz. Greice também chama atenção para o fato de haverem moedas no aquário, e acredita que o metal possa liberar alguma toxina na água.
De novo? – Em 2011, também depois de uma denúncia no Youtube, policiais federais apreenderam os animais que ficavam na loja e eram uma das atrações do local. O proprietário, que não tinha licença ambiental, foi multado em R$ 10 mil.
À época foi noticiado que o mini zoológico já estava ali há bastante tempo e só foi alvo da ação após um vídeo no site Youtube denunciar a presença de um Piracucu gigante no local.
Em contato com a loja por telefone, o gerente Pedro Magalhães afirmou que o Pirarucu é criado por eles desde 2005 e foi comprado, com nota fiscal. E que mesmo tendo sido apreendido na operação de 2011, foi devolvido pelas autoridades ao aquário.
“Ele é um animal muito bem tratado, um peixe lindo, que come na mão. Mansinho, comprado no Projeto Pacu, tem nota fiscal certinho, já era de cativeiro”, explicou.
O animal é o sobrevivente do incêndio que atingiu a loja em maio de 2013. O fogo consumiu tudo, instalações, produtos, prédio, e foi reconstruído, tendo o Pirarucu como atração principal também na reinauguração, em setembro do mesmo ano.
Em relação às moedas que são jogadas pelos clientes no aquário e que ficam ali, o gerente disse que não tem como os funcionários ficarem o tempo todo ali fiscalizando, mas que este hábito já foi reduzido e muito.
Sem nome, o peixe vive, segundo a gerência da loja, em um tanque com 30 mil litros de água. “Se você chegar perto dele, não tem um risquinho, de tão bem tratado que ele é. Ele come ração e também peixe, como lambari e sardinha”, disse Pedro.
É crime? – Tenente-coronel da PMA (Polícia Militar Ambiental), Edmilson Queiroz, explicou ao Campo Grande News que não tem nenhuma legislação sobre maus tratos a peixes, e que portanto, ali não vê nenhum crime ambiental sendo cometido. Mas que como houve denúncias, os militares iriam até a loja averiguar.
“O que eu falo dali, não importa o tamanho, o local em que o peixe esteja, não este essa delineação na norma. Se estão dizendo que foram comprados como peixe de piscicultura , vamos chegar a nota”, complementa.
Quanto à espécie, Queiroz afirma que o Pirarucu tem períodos em que a sua pesca é permitida.
O Campo Grande News tentou contato com o Ibama, mas até o fechamento desta reportagem não teve retorno da assessoria de comunicação do órgão que fica em Brasília.
Fonte:CGN