Uma descoberta científica no rio Taquarizinho, afluente do rio Taquari, no Alto do Rio Paraguai, pode desvendar o processo de formação do Pantanal. Duas espécies novas de bagres, tipicamente de linhagens da bacia amazônica foram localizados em uma expedição inédita de pesquisadores, em Alcinópolis.
Os peixes podem responder como foi o evento geológico que resultou no afundamento da região, mudando a direção dos cursos dos rios que drenavam na bacia amazônica. A mudança que originou a bacia do Rio Paraguai, carregou com ela alguns peixes amazônicos.
A pesquisa do professor da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da Universidade Federal da Grande Dourados, Fernando Cesar Paiva Dagosta e do diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, Mário de Pinna foi publicano na revista científica Papéis Avulsos de Zoologia, na edição de abril.
As duas espécies de peixes novas para a Ciência são fruto do projeto “Distribuição, Biogeografia e Conservação dos Peixes do Cerrado”, sediado na UFGD, financiado pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e realizado desde 2018.
A descoberta está no artigo intitulado “Two new catfish species of typically Amazonian lineages in the Upper Rio Paraguay (Aspredinidae: Hoplomyzontinae and Trichomycteridae: Vandelliinae), with a biogeographic discussion”, que pode ser traduzido como: Duas novas espécies de bagres de linhagens tipicamente amazônicas no Alto Rio Paraguai (Aspredinidae: Hoplomyzontinae e Trichomycteridae: Vandelliinae), com uma discussão biogeográfica.
“A gente precisa conhecer a biodiversidade para poder preservá-la. Qualquer espécie só tem direitos legais, direitos de ser protegida, se for reconhecida como espécie de fato. Por isso é importante coletar as espécies, identificar, descrever e indicar se ela precisa de atenção”, disse o professor da UFGD.
Embora uma das espécies descritas seja um Candiru, cujos parentes amazônicos são temidos por invadir os orifícios genitais de banhistas, a espécie encontrada na bacia do Rio Taquari não oferece perigo, uma vez que, até hoje, não há registros de espécies desse gênero que tenham causado problemas aos humanos. Como todos os Candirus, é conhecido como um “peixe-vampiro”, pois se alimenta de sangue de outros peixes, por meio de ferimentos que faz nas brânquias dos seus hospedeiros. Os animais usados como base para a descrição foram capturados em bancos de areia no meio do rio, em locais sombreados pela mata ciliar, sem vegetação aquática, em profundidades que variam entre 30 e 150 centímetros. Parece ser uma espécie razoavelmente comum na área em que foi coletada, sendo a descrição da espécie feita com base em mais de uma dezena de animais.
Já o Banjo alimenta-se basicamente de larvas de pequenos insetos que encontra no fundo dos rios. Os exemplares que serviram de base para a descrição da nova espécie foram capturados em rio raso e de águas claras, com fluxo moderado de água, em substrato constituído por rocha e areia. A vegetação é formada por plantas aquáticas em alguns locais, com mata ciliar bem conservada, em ambiente sombreado. A espécie parece não ser abundante localmente, tendo em vista o pequeno número de indivíduos registrados até o momento nos estudos realizados.
No artigo, o Candiru é classificado na categoria de ameaça como “dados insuficientes” e o Banjo como “quase ameaçado”. Por isso, a descoberta é relevante inclusive para mostrar a vulnerabilidade das espécies e a necessidade de preservação da bacia do Rio Taquari, que de acordo com a pesquisa, sofre com o desmatamento, o assoreamento e a contaminação por agrotóxicos que resultam de atividades como a pecuária e a monocultura de soja na região.
Fonte;CGN