Gustavo é músico. Nascido em Marília (SP), se mudou com a família para Dourados nos anos de 1980, seguindo a onda migratória. Seu interesse pela música veio de muitas fontes. “Do coral da igreja às cantorias de bares, da guitarra jovem guarda do tio ao piano da prima, da capoeira e seus sons às experiências sonoras possíveis em sons alternativos. Fui tomado por esse mundo dos sons, por essa possibilidade do toque sem tato”, conta. Hoje, vive exclusivamente da luthieria e trabalha com manutenção e restauro em praticamente todos os instrumentos de cordas, sejam dedilhadas ou friccionadas.
A luthieria o acompanha desde as primeiras experiências musicais, como consertar violões velhos para poder tocar, modificar instrumentos ou fazer berimbau. “Mas foi por volta do ano de 2000, com João Domingos [conhecido luthier douradense], que fui iniciado na fabricação de instrumentos. Depois, foi uma questão de criar à minha maneira de pensar e construir”, diz o profissional. Ele mantém o estudo de instrumentos antigos, como o alaúde renascentista, o alaúde barroco e guitarras antigas. “Tenho me concentrado na fabricação de violões que tem como objetivo atender os músicos com estudo do violão erudito. No entanto, é comum músicos da música popular solicitarem a fabricação de um instrumento, pois, apesar das fábricas atualmente construírem ótimos instrumentos, na construção artesanal é possível uma concepção específica. E esses instrumentos são muito bem quistos em estúdios de gravação”, esclarece sobre o seu trabalho.
Sobre a luthieria
De acordo com Crespe, a palavra luthier tem origem na fabricação dos alaúdes, instrumento que tem origem no Oriente Médio e foi predominante no período renascentista europeu. “O fabricante de alaúde (‘the lute maker’), ganhou esse nome luthier. O nome se estendeu para todos fabricantes de instrumentos musicais”, explica o músico. Historicamente, o luthier tem papel fundamental na concepção do som usado nas composições musicais. “Muitos luthiers tiveram parceria com músicos para encaminhar suas construções em função da estética musical do momento. Uma dessas parcerias foi entre o luthier Antônio Torres e violonista Francisco Tárrega. Esses deram origem ao instrumento que hoje chamamos de violão no Brasil”, disse. A palavra brasileira é usada para o instrumento que teve origem e é conhecido em outros países como ‘guitar’. Sobre os serviços realizados, o luthier explica que “existem muitos tipos de atendimento na luthieria, desde a manutenção de instrumentos musicais – o que geralmente contempla uma gama específica de instrumentos – até a fabricação de instrumentos musicais com características que atendem a um determinado público”.
Sustentabilidade
Sobre a relação da luthieria com a sustentabilidade – com a escassez de madeiras, crescente desmatamento e necessidade de preservação ambiental -, Gustavo Crespe afirma que “alguns construtores são ativistas na questão ambiental. Os fornecedores desse material têm de seguir uma série de normas que regulam o mercado. No caso do violão, em que usamos madeiras de cinco continentes diferentes, estamos sujeitos às políticas de preservação e importação de cada país”.
Ela cita como exemplo a Índia, que “importa seu jacarandá [madeira utilizada na fabricação de instrumentos] quase que exclusivamente para luthieria. Isso garante um bom preço pela madeira e garante ao estado suas taxas que são revertidas para preservação ambiental. No Brasil, ele conta que “no Espírito Santo ainda é extraído o pau-brasil para fabricação de arcos de violinos. Lá existe uma associação onde integram fabricantes de arco do mundo afora e visa a manutenção desse material. Existem muitas ações nesse sentido, da manutenção. A luthieria tem condições de realizar esse trabalho pois não é algo impessoal e ganancioso”.
Serviço
O atelier do luthier Gustavo Crespe fica localizado na Rua Brasil, 1400, Dourados-MS, e o contato é (67) 99345-3223.
Fonte: OProgresso