EconomiaNotícias

Salário mínimo sobe em 2021, mas não deve repor perda real da inflação

Compartilhar:

O governo federal elevou a previsão do salário mínimo para R$ 1.088 em 2021. A mudança consta na revisão de metas e projeções fiscais enviada ao Congresso.

A projeção se baseia no aumento da previsão da inflação. Para economistas, repor a inflação não é suficiente para restabelecer o poder de compra dos trabalhadores.

O salário mínimo foi revisado pela terceira vez pela equipe econômica do governo.

Em abril, na proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo previa que o piso nacional fosse reajustado dos atuais R$ 1.045 para R$ 1.079 no ano que vem.

Já em agosto, quando enviou o projeto de Lei Orçamentária Anual (LOA), o valor foi reduzido para R$ 1.067.

A nova projeção é baseada na correção da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para famílias com renda de um a cinco salários mínimos.

Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), capta os impactos sobre o orçamento de famílias com renda até 40 salários mínimos. No mês passado, a Secretaria de Política Econômica, do Ministério da Economia, elevou a projeção para o INPC de 2,35% para 4,10%.

De acordo com a economista do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Fecomércio (IPF-MS), Daniela Dias, a inflação tem um impacto gigante na vida das pessoas e no poder de compra.

“Muitas vezes a gente percebe que o salário mínimo tem dificuldade em cobrir tudo aquilo que as pessoas precisam. Boa parte daqueles que ganham um salário acaba despendendo para o pagamento de alimentação, artigos básicos para sobrevivência, aluguel, então boa parte do orçamento fica aí”, diz.

O economista Marcio Coutinho explica que não há aumento real.

“Realmente, R$ 43 é pouco, porque se faz poucas coisas com esse valor, mas, por outro lado, é a correção da inflação. É importante salientar que ao repor a inflação não existe aumento real, o salário não terá aumento além da inflação”.

Em Campo Grande, o INPC acumula alta de 6,24% até novembro e de 7,71% em 12 meses, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No País, o índice é de 3,93% em 2020 e no intervalo de novembro do ano passado a novembro deste ano acumula 5,20%.

Poder de compra

A economista ressalta que, apesar de a inflação ser uma média, temos variações distintas a depender do segmento.

Daniela exemplifica que no caso da alimentação há itens que aumentaram mais expressivamente do que outros em 2020.

“Por mais que tenhamos um aumento do salário, pode ser que realmente as pessoas continuem tendo perda do poder de compra, justamente pelo fato de essas variações serem distintas. E principalmente pelo fato de termos visto uma inflação mais significativa nos alimentos em que a gente toma boa parte do orçamento das pessoas. Podemos dizer que [o reajuste] não segue as variações de tudo aquilo que temos visto de aumento dos preços.

Para termos uma efetividade disso, a gente precisa controlar os preços para que possamos melhorar o poder de compra das pessoas. Se a gente não conseguir controlar a inflação, veremos cada vez mais o encolhimento desse poder de compra”, destaca a economista.

Daniela ainda explica que com a elevação do índice o dinheiro perde valor.

“Se antes eu gastava R$ 100 para fazer uma compra, hoje, para comprar as mesmas coisas, eu preciso gastar R$ 150. Isso é reduzir o poder de compra. Imagina a pessoa que ganha um salário mínimo, com um peso maior no orçamento ela vai precisar substituir itens de consumo. Como trocar arroz por macarrão, feijão-branco por feijão-preto, buscar alternativas para amenizar ao máximo. Talvez esse aumento não seja o suficiente, dadas essas variações. O que a gente precisa mais ainda é conseguir controlar essa inflação”, complementa.

Estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que o porcentual do salário mínimo líquido comprometido para compra de uma cesta básica em Campo Grande foi de 60,94% em novembro.

Problemática

O aumento no piso da remuneração do País pode não ser suficiente para o trabalhador, mas para empresários e para as contas do governo podem pesar bastante.

Conforme cálculos do Ministério da Economia, a cada 0,1 ponto porcentual a mais de variação no INPC, haverá um aumento de R$ 768,3 milhões nas despesas em 2021.

O economista Márcio Coutinho destaca que o valor do reajuste pode ser pequeno para quem recebe e alto para quem paga.

“Porque quem paga não são só esses R$ 1.088, há todos os encargos trabalhistas sobre os salários. O governo também, ao aumentar os salários, acaba aumentando suas contas com a Previdência, e a gente sabe que as contas do governo não estão equilibradas”, analisa o economista.

Salário ideal

Com base na cesta básica mais cara do País, que em novembro foi do Rio de Janeiro, o Dieese estima que o salário mínimo necessário deveria ser equivalente a R$ 5.289,53, o que corresponde a 5,06 vezes o mínimo vigente, de R$ 1.045,00.

O cálculo é feito levando em consideração uma família de quatro pessoas, sendo dois adultos e duas crianças.

Para o doutor em Economia Mateus Abrita, o ideal seria conseguir elevar a produtividade.

“Isso é possível por meio da melhora da infraestrutura, da tecnologia, da educação, de investimento em setores estratégicos como indústria e serviços e maior estabilidade política institucional. Para assim promover uma política de valorização sustentável do salário mínimo”, analisa.

A economista Daniela Dias aponta que para chegarmos a um salário que supra as necessidades é preciso equilíbrio econômico.

“O que dá para dizermos é que o salário suficiente seria aquele que permitiria dar uma subsistência básica para as pessoas, ou seja, alimentação, pagar o aluguel, alguns momentos de lazer e ter uma pequena poupança para momentos emergenciais. Esse seria o salário ideal: que dá para cobrir o básico que todas as pessoas precisam. Para tudo isso acontecer, temos de ter um ciclo econômico.

Os empresários precisam ter faturamento mais a contento, mais estímulos e um lucro melhor, para que isso seja possível. Para que as pessoas recebam mais, consigam consumir mais e para que os empresários possam ofertar e contratar mais”, conclui.

 

 

 

 

Fonte:CE

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo