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Patricia Medici e seu trabalho para a conservação da anta brasileira

Trabalho inédito desenvolvido com a colaboração da Fazenda Baía das Pedras na Nhecolândia

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A paixão pela natureza nunca foi coincidência. Apesar de quase ter seguido carreira de arquiteta, as raízes puxadas da chácara em que cresceu com a família em Santo André, no ABC Paulista, fez com que Patricia Medici seguisse seu instinto e, duas semanas antes de se inscrever para o vestibular, virasse a chavinha da profissão dos sonhos e passasse a almejar a função de engenheira florestal. “Eu não fiquei surpresa quando passei por essa mudança de ideia, porque fez sentido na minha cabeça”, pontuou a profissional.

A cientista, que hoje é a principal referência na conservação das antas brasileiras, e criadora do maior banco de dados sobre a espécie no mundo, também contribuiu para a fundação do Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ ainda quando estava na faculdade. “A concepção do IPÊ veio do casal Claudio e Suzana Pádua, do histórico deles, do caminho que eles vinham percorrendo, mas houve um grupo de estudantes que se aninhou ao redor dos dois e eu era um deles”, explicou Medici. “A coisa foi tomando vulto e fomos pensando então que a nossa missão seria conservação de espécies ameaçadas e queríamos muito que fossem espécies pouco estudadas, difíceis de serem estudadas, sobre as quais haviam pouquíssimas informações tanto no Brasil, quanto fora. E [a ONG} veio disso, veio suprir uma demanda para pesquisa e conservação de espécies no pais e, consequentemente, manutenção da biodiversidade brasileira”, acrescentou.

De fato, a ideia que – de acordo com as próprias palavras da conservadorista – foi fundada em “uma tarde tomando uma cervejinha na rua do porto em Piracicaba”, triunfou e se tornou um marco no quesito de preservação do meio ambiente brasileiro. Após receber o Whitley Awards em 2008, a cientista foi selecionada esse ano, dentre a gama de ganhadores prévios do principal prêmio sustentável do mundo, para ser condecorada com o reconhecimento mor, o Whitley Gold.

Quando questionada o que à levou dedicar sua carreira na manutenção e monitoramento das antas, Patricia disparou com bom humor: “Eu queria trabalhar com animal sobre o qual se soubesse muito pouco para poder colocar meu dedo em algo que tivesse alguma relevância, tanto para a conservação do bicho em si, quanto para a conservação do habitat no qual ele é encontrado, e a anta caiu como uma luva. Mas eu confesso que eu não tenho uma história romântica com esse animal, sempre brinco com isso. Alguns pesquisadores falam ‘Ah, eu sempre fui apaixonado por primatas, por macacos, por baleias’ e eu não tive isso”. Porém, a relação que começou de maneira simples e despreocupada, acabou se transformando na causa de uma vida.

“Devagarinho vamos compondo um mosaico de dados que vai nos permitir, em um futuro próximo, determinar com grande acurácia o status de conservação desse animal no Brasil. De maneira geral, a anta está distribuída por todo o país, em quatro biomas principais (Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e Amazônia) e é um animal que está listado como vulnerável à extinção e que merece atenção de pesquisa e conservação no pais de forma geral”, explicou a profissional.

O papel que o animal desempenha na manutenção do bioma onde está inserido é de extrema importância. Por ser uma espécie herbívora, que se alimenta de grandes quantidades de frutos silvestres, acaba transportando sementes pelo seu habitat e, com isso, carrega diferentes espécies para diferentes lugares, sendo, assim, chamada de jardineira das florestas. Por isso, o projeto já está com planos de estender sua área de atuação para a Amazônia, ação que por conta da pandemia de coronavírus precisou ser adiada por algum tempo. Entretanto, o prêmio recebido em dinheiro no Whitley Awards, veio em um bom momento e já está sendo 100% utilizado para expansão das as atividades na região.

Aquidauana_MS, 18 de agosto de 2019Pesquisadora Patricia Medici desenvolvendo seu trabalho de pesquisa com a anta (Tapirus terrestres) no Pantanal.FOTO: JOAO MARCOS ROSA/NITRO (Foto: JOAO MARCOS ROSA/NITRO)

“Trabalho com as antas é o meu propósito. Tenho outros propósitos de vida, mas esse é certamente um dos mais importantes, senão o mais importante. Acordo e vou dormir em função de trabalhar para a conservação desse animal. [O prêmio] traz um carimbo, um selo de confiança de um bom trabalho que merece que a gente olhe, que a gente acredite, que a gente apoie”, refletiu a conservadorista à respeito do valor que a visibilidade da premiação coloca sobre o projeto.

A mensagem que gostaria de passar à partir de sua função, por sua vez, é a de inspirar futuros profissionais dedicados à preservação do meio ambiente: “Acho que vivo tentando passar, dia após dia, que a gente tem que ser muito apaixonado por aquilo que a gente faz profissionalmente. Trabalhamos muito e, se a gente tem paixão por aquilo, a vida é tão mais prazerosa e a qualidade do nosso trabalho é tão melhor. Isso porque tem paixão, tem brilho no olho, tem sangue no olho. Não é só um emprego, é uma causa, é um coração colocado ali, é uma camisa vestida. Então, o que eu gosto de passar para as pessoas é para que busquem algo na tua vida que te traga brilho no olho. Busque algo que te traga paixão. Eu gosto de me enxergar no futuro olhando para traz e pensando que eu treinei centenas de pessoas que estão naquele momento atuando para a conservação no país. Isso me faria extremamente feliz”.

Fonte: Vogue Brasil

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