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Mostra reabre circuito de exposições, mas sem descuidar da biossegurança

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Após quase seis meses de portas fechadas, a galeria do Sesc Cultura vai reabrir para visitação pública hoje, a partir das 14h.

É quando terá início a exposição “Conceição, Ilton e Jorapimo – Um Encontro de Memórias”, que ficará em cartaz até 30 dezembro, com entrada franca.

A mostra apresenta 24 trabalhos – 10 de Conceição dos Bugres (1914-1983); oito de Ilton Silva (1944-2018); e seis de Jorapimo (1937-2009) – e sua data de abertura foi programada para esta semana, com o objetivo de integrar às comemorações pelos 121 anos de Campo Grande, celebrados ontem.

“A exposição foi criada a partir do acervo regional do Sesc, destacando a importância desses três artistas como responsáveis em capturar a expressão e a narrativa genuinamente sul-mato-grossense”, afirma o curador Kaio Ratier.

Em atenção às medidas necessárias em decorrência da Covid-19, Ratier assegura que a mostra foi organizada “seguindo todas as recomendações dos órgãos competentes” para reduzir ao máximo o risco de contaminação durante as visitas presenciais.

Somente quatro visitantes por vez terão acesso à exposição. O espaço da galeria, de 60 metros quadrados, envolve três ambientes interligados do andar térreo do prédio, onde funciona o Sesc Cultura, a antiga sede do Comando Militar do Oeste do Exército, na Avenida Afonso Pena.

Para entrar, além do uso de máscara, será necessário higienizar as mãos com o álcool gel, disponível no local, e a aferição da temperatura corporal.

Mesmo assim, levando em conta o tempo estimado para uma visita completa de cada grupo, 30 minutos, a mostra deve receber quase 2.500 pessoas até o encerramento, no mês de dezembro.

Segundo informações de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o pico de contaminação em Campo Grande será na terceira semana de setembro.

“A maior dificuldade dessa mostra é atingir um grande número de público presencial e resgatar os grupos de estudantes com as visitas agendadas para a mediação; na medida do possível, pretendemos atender o máximo de visitantes”, comenta Kaio Ratier.

Com o público da web, a audiência da exposição poderá aumentar e atingir os olhos de quem se encontra bem distante da capital morena. Um vídeo explicativo sobre a visitação virtual será disponibilizado nas redes sociais do Sesc MS até segunda-feira. “Será para quem preferir visitar de casa”.

O que esperar da exposição

Primeiro evento presencial de artes visuais em Campo Grande desde o início da pandemia.

Um Encontro de Memórias reúne três dos mais significativos nomes da pintura e da escultura de Mato Grosso do Sul, representados por trabalhos que remontam um arco temporal de pelo menos quatro décadas.

As obras mais antigas são de Conceição dos Bugres, que faleceu no início dos anos de 1980 e ficou famosa pelas esculturas em madeira de pequeno porte, que produzia sob a inspiração de povos indígenas – cadiueus, caiuás, terenas –, seu exemplo de resistência.

A história por trás da criação dos totens de imagem forte, que ficaram conhecidos como bugrinhas, diz muito da relação da artista com a natureza.

A crítica Maria da Glória Sá Rosa (1928-2016), que também escreveu sobre Ilton Silva e Jorapimo, conta que, para produzir a primeira peça, Conceição Freitas da Silva, nome de batismo da escultora, nascida em Povinho de Santiago (RS), buscou aproveitar as formas naturais de um pedaço de raiz de mandioca, desbastou com o cinzel e fez uma aplicação de piche para figurar os cabelos e a expressão facial.

Um artesanato primitivista, originado da labuta autodidata em sua morada simples no Bairro Universitário, que encantou o mundo desde que foi vista em uma exposição pela primeira vez, o “Panorama de Artes Plásticas” de Campo Grande, em 1970.

Entre diversas outras mostras, seus trabalhos estiveram na Bienal Nacional de 1974, em São Paulo.

Mãe e filho

Filho de Conceição dos Bugres, Ilton Silva, falecido em 2018, nasceu em Ponta Porã e passou a expor suas paisagens de tinta acrílica sobre tela ainda durante a juventude, no fim dos anos de 1960.

Desde então, seus cortadores de cana, lenhadores, ervateiros e personagens femininas têm sido vistos no Brasil e em países como Portugal e Alemanha.

No começo dos anos de 1990, Ilton Silva realizou em Nova York, na Lawrence Gallery, a exposição “Mulheres, Mito, Cor”.

Considera-se que a primeira fase do artista vai até 1980, na qual Ilton procurou lidar com dualismos – místico-real, metafísico-terrestre –, já apontando para uma rubrica de mensagem social na deformação de pés e ventres das figuras humanas e na exploração dos tons de verde e vermelho.

As oito obras do artista presentes na exposição foram produzidas entre 2006 e 2015 e pertencem a diferentes séries: cores e mitos; litoral, ranchos, peão; e cavaleiros.

As outras facetas criativas de Ilton, que não estão contempladas em “Um Encontro de Memórias”, revelam também um escultor e um entalhador (molduras, portas, janelas) de mão cheia.

Pantaneiro

Todas as seis obras de José Ramão Pinto de Moraes, o Jorapimo, presentes na exposição trazem imagens que fizeram do artista um dos ícones da representação do sentimento pantaneiro.

Por meio do acrílico sobre tela, obras como “Chalana no Rio”, “Pescador Remando”, “Lavadeira Ribeirinha” e “Ponte de Captação de Água”, em que, muitas vezes, o uso da espátula confere gesto e espessura ao efeito cromático, traduzem de modo singular, o lirismo engajado e a nostalgia deste autodenominado cuiacurum (descendente de cuiabanos), nascido em Corumbá, que rodou o mundo com a sua arte.

Quando fez sua primeira mostra, em 1957, em São Paulo, Jorapimo já militava pela causa ecológica. Participou de exposições em dezenas de cidades brasileiras e também no Japão e na Alemanha.

Em 2004, o Marco realizou o “Panorama Retrospectivo”, dedicado a repassar a obra de Jorapimo, que praticou ainda a escultura e foi um dos fundadores da Academia Mato-Grossense de Arte.

 

Fonte:CE

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