O bilionário Eduardo Saverin, um dos cofundadores do Facebook ao lado de Mark Zuckerberg, está cada vez mais próximo do mercado de startups do Brasil. Nesta quinta-feira (20), o empresário anuncia seu primeiro investimento em uma empresa de tecnologia da América Latina, a Yalochat, fundada no México e com escritórios em diversos países, incluindo o Brasil.
A startup acaba de levantar um investimento de 15 milhões de dólares (aproximadamente 83 milhões de reais) em uma rodada de série B liderada pelo fundo de Eduardo Saverin, o B Capital Group. O investimento conta ainda com a participação do fundo de capital de risco americano Sierra Ventures, que já era investidor da Yalochat.
Em entrevista exclusiva à EXAME por videoconferência, Eduardo Saverin disse estar animado em investir pela primeira vez em uma empresa que tem ligação ao país onde ele nasceu e afirma que espera poder encontrar outras empresas na região para investir num futuro próximo.
“Não estaria completo como investidor se não tivesse o Brasil e a América Latina como uma parte do mundo em que damos muita ênfase”, disse ele, falando de Singapura, onde vive desde 2009. “Mas, por mais que eu seja brasileiro, não tenho nenhuma presunção de que achar que sei o que estou fazendo na região. Estamos chegando agora para conhecer o mercado e aprender com a experiência.”
Desde que fundou o B Capital Group com o sócio Raj Ganguly em 2015, Saverin tem trabalhado de perto com empreendedores mundo afora e buscado investir em empresas novatas de tecnologia. Hoje o fundo conta com cerca de 30 startups no portfólio. A maior parte delas é sediada em países do sudeste asiático, na Europa ou nos Estados Unidos. Ao todo, o B Capital tem cerca de 1,4 bilhão de dólares sob gestão e, em junho, levantou um segundo fundo de 820 bilhões de dólares em parceria com a consultoria Boston Consulting Group.
Segundo Saverin, que é o terceiro brasileiro mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em 14,6 bilhões de reais, o fundo busca investir em empresas de tecnologia que tenham uma atuação e uma mentalidade global e busquem desenvolver soluções que possam ser usadas em qualquer país, por qualquer empresa.
Este é o caso da Yalochat, por exemplo. Fundada em 2016 pelo empreendedor Javier Mata, a startup se especializou em criar uma ferramenta integrada a aplicativos de mensagem, como o WhatsApp e Facebook Messenger, para que as empresas possam atender consumidores, clientes e fornecedores usando a tradicional plataforma de bate-papo.
Hoje a startup tem escritórios nos Estados Unidos, na China, na Índia, na Colômbia, além do Brasil e do México. Entre os 700 clientes da startup estão grandes empresas como Coca Cola, Walmart, Amazon e Unilever.
No Brasil, por exemplo, a Coca Cola utiliza a ferramenta para se comunicar com os comerciantes de todos os tamanhos e processar os pedidos de encomendas de produtos, um trabalho que antes era feito manualmente por atendentes por telefone. Ao todo, cerca de 350.000 lojistas clientes da Coca Cola utilizam a plataforma no Brasil, segundo a Javier Mata, da Yalochat.
“Essencialmente, o que fazemos é permitir que as empresas usem um aplicativo leve, como o WhatsApp, para que possam entrar no mundo do comércio online com pouquíssima fricção. Damos as ferramentas para as empresas trazerem todos esses processos para o meio digital, mas de uma forma simples e fácil”, disse Mata.
O serviço concorre diretamente com empresas de software estabelecidas que fornecem plataformas de gestão de clientes, como Salesforce e ServiceNow, e atuam no segmento de CRM (Customer Relationship Management).
Para Saverin, ferramentas como a do Yalochat têm o potencial de mudar a maneira como as empresas fazem negócios e se relacionam com consumidores e clientes, colocando os aplicativos de mensagem em primeiro lugar. “Para nós, o investimento faz parte de uma ideia de permitir que as maiores empresas do mundo possam se aproveitar do engajamento que já existe nos aplicativos de mensagem e fazer com que esse meio ajude a acelerar seus fluxos de trabalho”, afirma.
Bilionário antes dos 30
Ex-colega de faculdade de Mark Zuckerberg quando os dois estudavam na Universidade Harvard, Eduardo Saverin foi um dos primeiros a trabalhar na rede social criada em 2004 e inicialmente batizada de “Thefacebook”. Saverin tinha muita habilidade com matemática e finanças e ficou responsável pela gestão financeira da plataforma em seus primeiros anos. O primeiro endereço físico do Facebook era o da casa dos pais de Saverin, na Flórida, quando abertura da empresa foi formalizada. Ele também ajudava Zuckerberg a trazer receitas para plataforma, fazendo contatos com anunciantes interessados em fazer campanhas publicitárias.
Com o crescimento da rede social, Zuckerberg e os demais colegas decidiram se mudar para Palo Alto, na Califórnia, para ficar mais próximo das grandes empresas de tecnologia e investidores. Saverin, no entanto, decidiu ficar em Boston para terminar a faculdade e continuou trabalhando remotamente fazendo a gestão financeira e buscando anunciantes. Mas a distância prejudicou o relacionamento e desavenças entre os fundadores foram crescendo, até que Saverin se afastou do negócio por discordar de algumas decisões.
Anos mais tarde, Saverin e Zuckerberg disputaram na Justiça qual era a participação acionária do brasileiro no capital Facebook (ele havia investido 19.000 dólares no site, no primeiro ano, mesmo valor investido por Zuckerberg). A disputa terminou em 2009 com um acordo entre os dois ex-colegas. O Facebook reconheceu Saverin como cofundador e o brasileiro manteve uma participação de 2% na empresa. Sua fortuna é avaliada hoje em 14,6 bilhões de dólares (em grande parte em razão das ações do Facebook), o que faz dele o terceiro brasileiro mais rico do mundo, atrás somente do banqueiro Joseph Safra e do empresário Jorge Paulo Lemman, segundo a revista Forbes.
Nascido em São Paulo em 1982, Saverin se mudou para os Estados Unidos com os pais quando tinha 10 anos e cresceu em Miami, na Flórida. Depois de se formar em Harvard, com uma graduação em Economia, ele se mudou em 2009 para Singapura, onde vive até hoje. Em 2011, ele renunciou à cidadania americana, o que levou a críticas na época de que ele estava buscando fugir dos impostos cobrados no país (o que ele sempre negou).
No ano de 2015, ele fundou o fundo de capital de risco B Capital junto com Raj Ganguly, outro ex-colega de Harvard, para investir em empresas de tecnologia. O primeiro fundo montado por eles captou 320 milhões de dólares – sendo uma parte dos recursos do próprio brasileiro.
Fonte: Exame