Os celulares dos envolvidos no caso da morte de Isabele Ramos, de 14 anos, passaram por análise de dados da Diretoria de Inteligência da Polícia Civil e foi constatado que algumas mensagens trocadas entre os envolvidos no caso foram apagadas no dia da ocorrência.
Isabele foi morta no dia 12 de julho supostamente por um tiro acidental disparado pela amiga, também de 14 anos, em um condomínio de luxo de Cuiabá.
A extração de dados dos aparelhos foi autorizada após a Justiça determinar a quebra de sigilo telefônico.
A Polícia Civil informou que a equipe de Inteligência está tomando medidas técnicas para tentar recuperar essas mensagens apagadas.
A suspeita é que as conversas tenham ligação com a morte da adolescente.
No celular do namorado da jovem que atirou e do irmão dele, foram identificadas trocas de mensagens sobre a tragédia.
Em uma das mensagens, o irmão pergunta se ficou alguma munição na arma levada até a casa adolescente, e o jovem responde ‘tava no carregador, mas não na câmara’.
Em seguida, o irmão mais velho questiona: acertou alguém? O jovem diz: ‘A guria morreu’.
Conforme a perícia, em outra conversa, o rapaz aconselha o irmão a salvar as conversas importantes, pois acredita que tentariam responsabilizá-lo pelo que ocorreu.
Já outras mensagens trocadas entre a família, foram apagadas.
Por meio da Delegacia Especializada do Adolescente (DEA) e da Delegacia dos Direitos da Criança e do Adolescente de Cuiabá (Deddica), a polícia já ouviu depoimentos da mãe da vítima, Patrícia Ramos, do namorado da adolescente que atirou, a menina suspeita do disparo, a família dela, testemunhas que estavam no local no dia da ocorrência e vizinhos do condomínio onde ocorreu a morte de Isabele.
O delegado estima que o inquérito seja concluído em 10 dias após a elaboração do laudo pericial da reprodução simulada dos fatos. No entanto, esse prazo pode variar de acordo com a complexidade do ato.
Reconstituição
No local, será reproduzido cada movimento feito pelas partes, para apontar a compatibilidade das versões apresentadas. Na reprodução, será verificado se a versão da adolescente é possível e compatível com os laudos da perícia, que contrapõem o depoimento dela.
Segundo a polícia, as investigações apontaram que houve circulação de pessoas na casa antes da chegada da Polícia Militar, que isolou a área superior da casa logo ao chegar ao local.
O advogado de defesa fez um pedido para que sejam realizadas perícias complementares. A solicitação está sendo analisada pelos delegados responsáveis pelas investigações.
Após a reconstituição, os delegados que presidem o inquérito irão analisar se serão necessários novos depoimentos.
De acordo com a polícia, a partir da entrega do laudo da reprodução, será feita a análise de todos os laudos periciais produzidos (necropsia, local de crime, confronto balístico e reprodução simulada), depoimentos, relatórios de celulares, relatório de vídeos e imagens, entre outros atos investigatórios. Em seguida, é concluído o inquérito.
Perícia contrapõe versão
O advogado da família da adolescente que efetuou o disparo, Rodrigo Pouso, contou que o pai da suspeita do tiro acidental estava na parte inferior e pediu para que a filha guardasse a arma no andar superior, onde estava Isabele.
A adolescente pegou o case – uma maleta onde estavam duas armas – e subiu obedecendo ao pai. Apesar de estar guardada, a arma estava carregada.
Segundo o advogado, uma das armas caiu no chão e a adolescente tentou pegar, mas se desequilibrou ao levantar e o objeto acabou disparando.
A menina negou que brincava com a arma ou que tentou mostrar o objeto para a amiga.
No entanto, um Laudo da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) aponta que a pessoa que matou Isabele Ramos estava com a arma apontada para o rosto da vítima, a uma distância que pode variar entre 20 e 30 cm, e a 1,44m de altura. O laudo é assinado pelo perito criminal Thiago José Resplande Lima, no dia 7 de agosto.
Conforme o documento da Politec, Isabele estava no banheiro da suíte na parte superior da casa da amiga. Em momento seguinte, o atirador entrou no banheiro, na parte esquerda, com a pistola apontada para a face da vítima, contra a qual efetuou disparo acionando o gatilho. A vítima foi atingida no nariz pelo tiro, que transfixou a cabeça.
Laudo de balística da Politec atesta que o tiro que matou Isabele Ramos não foi disparado acidentalmente.
Praticante de tiro
As duas famílias, a da adolescente que disparou, e a do namorado dela praticam tiro esportivo.
A Federação de Tiro de Mato Grosso (FTMT) disse que a adolescente que matou a amiga é praticante de tiro esportivo há pelo menos três anos.
Segundo a federação, o pai e a menina participavam das aulas e de campeonatos há três anos. Os nomes deles constam nos grupos, chamados ‘squads’, que participavam das competições da FTMT.
Outros membros da família também participavam desses grupos e praticam o esporte.
O advogado da família contestou a informação e afirmou que a adolescente praticava o esporte há apenas três meses.
Fonte:G1