O cerco ao desmatamento começa a se fechar pelo lado dos compradores. A Cofco International, trader ligada grupo Cofco Corporation, maior empresa de alimentos da China, anunciou hoje uma iniciativa abrangente para eliminar desmatadores de sua cadeia de fornecimento no Brasil. A meta é ter 85% das fazendas rastreadas até o ano que vem e 100% até 2023 na região do Matopiba, que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
A região é a que mais cresceu, no últimos anos, em plantio de grãos. É também onde se concentra a maior parte da conversão de terras para produção de soja no Cerrado. O bioma vinha sendo poupado do desmatamento, mas, desde o ano passado, voltou a fazer parte das estatísticas.
O projeto da Cofco conta com apoio da International Finance Corporation, braço de financiamento privado do Banco Mundial, que é acionista da trader. As fazendas de soja brasileiras passarão por uma triagem cujo objetivo é verificar se há casos de trabalho escravo na propriedade, se a plantação está localizada em área indígena ou unidades de conservação e se os produtores estão em conformidade com a Moratória da Soja, pacto assinado pelos produtores brasileiros, em 2006, se comprometendo a não comercializar soja proveniente de áreas desmatadas da Amazônia Legal.
Para realizar a triagem, a Cofco irá utilizar sobreposições de mapas de fazendas e imagens de satélite, além de dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que também cruza dados geoespaciais de propriedades rurais com mapas ambientais. A expectativa é que a avaliação atinja 85% dos fornecedores diretos e indiretos até 2020, e 100% até 2023.
Uma série de compradores de commodities agrícolas vem anunciando medidas para evitar fornecedores ligados ao desmatamento. Na semana passada, a Marfrig, segundo maior frigorífico do País, anunciou um compromisso para rastrear a origem de todo o gado que abate, até 2025. Para isso, deve investir cerca de 500 milhões de reais em 10 anos, sendo a maior parte nos próximos 5. O monitoramento também vai incluir os fornecedores diretos e os indiretos.
Em outra frente, a alemã Bayer passará a recompensar agricultores no Brasil pelo carbono gerado por meio de práticas agrícolas sustentáveis. Foram selecionados 500 produtores, a maioria de soja e milho, em 14 estados. Parte deles poderá vender os créditos de carbono para a Bayer, que pagará preço de mercado.
Investidores também estão pressionando o agronegócio brasileiro. O grupo sueco Nordea Asset Management, que conta com 220 bilhões de euros sob gestão, decidiu excluir a empresa de carnes JBS de todos os fundos que administra. A decisão se deu após um período de conversas entre o Nordea e a empresa brasileira, em que questões relativas ao meio ambiente e à governança corporativa não foram respondidas a contento.
Governo sob pressão
Ao mesmo tempo, empresários brasileiros pressionam o governo para tomar medidas contra o desmatamento. Na terça-feira 28, um grupo de empresários se reuniu com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para tratar de temas ambientais, como a regularização fundiária e a criação de um mercado de carbono no País.
O encontro foi organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), mesmo grupo que se reuniu, há duas semanas, com o vice-presidente Hamilton Mourão para cobrar ações do governo contra o desmatamento. Os empresários saíram otimistas da conversa com Mourão.
Esses encontros com o poder público foram motivados por uma carta, assinada por mais de 60 empresas, entre elas 15 das 20 maiores companhias brasileiras, pedindo providências contra a destruição da Amazônia. No documento, os empresários se mostraram preocupados com a repercussão da política ambiental brasileira no exterior.
Fonte: Exame