Réu por supostamente integrar um esquema de corrupção, o ex-chefe da Divisão de Compras e Licitação da prefeitura de Sidrolândia, Marcus Vinicius Rossettini de Andrade Costa, pediu à Justiça em Mato Grosso do Sul que deixe de ser monitorado para que possa trabalhar em Campo Grande.
Rossettini é um dos 23 réus na Operação Tromper, que desmontou um esquema milionário de fraudes em licitações liderado pelo ex-secretário municipal de Fazenda, Claudinho Serra (PSDB). Na petição, as advogadas do ex-chefe de Licitação informaram que ele teve dificuldades em se recolocar no mercado de trabalho.
Assim, a defesa pede que ele deixe de ser monitorado por tornozeleira eletrônica e que o horário de recolhimento noturno inicie à meia-noite, e não mais às 22h, para Rosettini poder trabalhar em um supermercado na área central, “considerando que a jornada de trabalho se encerrará às 22h e que o tempo mínimo para o deslocamento do trabalho até a residência, utilizando transporte público, é de aproximadamente 1h10min”.
O ex-chefe de Licitação declarou ter residência fixa no Jardim Itamaracá, região sul de Campo Grande. Capturas de tela de celular mostram o percurso que ele faria de ônibus entre a casa e o trabalho.
Promotoria não se convence e pede mais informações à defesa de ex-chefe de licitações
O MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul) não se convenceu e pediu esclarecimentos à defesa de Rossettini. O único documento anexado ao processo foi um e-mail da empresa solicitando documentos para admissão.
Assim, a Promotoria de Justiça em Sidrolândia pediu que as advogadas fossem intimadas “para complementação documental comprovando o horário de trabalho (declaração do empregador, contrato de trabalho, registro do ponto, entre outros)”.
O pedido ainda deve ser analisado pelo juiz Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva, da Vara Criminal de Sidrolândia. Aliás, continua pendente de julgamento outro pedido do ex-chefe de Licitação, que é a obrigação de comparecimento mensal ao Fórum da cidade.
Operação Tromper revelou esquema de corrupção na Prefeitura de Sidrolândia
Em maio de 2023, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado) foi às ruas de Sidrolândia para cumprir mandados de busca e apreensão contra empresários e servidores: era o início da Operação Tromper.
O alvo era a empresa Rocamora Serviços de Escritório Administrativo Eirelli, do empresário Ricardo José Rocamora Alves, que seria por onde passava a maior parte das notas frias emitidas no esquema.
A firma havia conquistado mais de R$ 2,3 milhões em contratos com a administração municipal, de itens que vão de chaveiros a merenda escolar, fato que chamou a atenção dos investigadores.
Meses depois, em julho, o Gaeco lançou a segunda ofensiva contra o grupo acusado de ‘abocanhar’ milhões em verbas públicas de Sidrolândia.
Naquele momento, foram presos os empresários Ueverton da Silva Macedo e Roberto da Conceição Valençuela, além do então servidor municipal Tiago Basso da Silva — que, tempos depois, firmou a primeira delação do caso.
Nesta ação, sete envolvidos foram denunciados pelo MP e se tornaram réus:
- Ueverton da Silva Macedo, o Frescura (empresário);
- Ricardo José Rocamora Alves (empresário);
- Roberto da Conceição Valençuela (empresário);
- Odinei Romeiro de Olveira (empresário);
- Evertom Luiz de Souza Luscero (apontado como laranja de Frescura);
- César Augusto dos Santos Bertoldo (servidor);
- Flávio Trajano Aquino dos Santos (servidor).
Já o empresário Milton Matheus Paiva Matos, que foi denunciado, está com processo suspenso após fechar o segundo acordo de colaboração premiada. Conforme as investigações e a delação premiada, o grupo se reunia para discutir fraudes em licitações no município de Sidrolândia. Denunciado, o ex-secretário de Infraestrutura Carlos Alessandro da Silva se livrou do processo.
Em abril de 2024, foi deflagrada a terceira fase da Tromper. Foi identificada nova ramificação da organização criminosa, atuante no ramo de engenharia e pavimentação asfáltica. Os contratos já identificados e objetos da investigação alcançam o montante aproximado de R$ 15 milhões.
Na ocasião, o ex-secretário Claudinho Serra, na época vereador da Capital, foi preso. Ele havia tomado posse na Câmara poucos dias depois da primeira fase da operação. Menos de um mês depois, Serra foi solto.
Em abril de 2025, Claudinho Serra e outros 22 viraram réus após o juiz da Vara Criminal da comarca de Sidrolândia, Fernando Moreira Freitas da Silva, aceitar a denúncia apresentada pelo MPMS.
Investigações do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e delação premiada do ex-servidor Tiago Basso da Silva apontam supostas fraudes em diferentes setores da Prefeitura de Sidrolândia, como no Cemitério Municipal, na Fundação Indígena, no abastecimento da frota de veículos e em repasses para Serra feitos por empresários. Os valores variaram de 10% a 30% do valor do contrato, a depender do tipo de “mesada”.
Já em junho, o MPMS realizou a quarta fase da Tromper. Segundo as investigações, a organização criminosa permaneceu ativa mesmo após a deflagração das operações anteriores e a aplicação de medidas cautelares.
Claudinho Serra voltou a ser preso nesta etapa. Após meses recorrendo, o ex-vereador e ex-secretário conseguiu ser solto por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Fonte:MM