A abertura do mercado japonês para a carne bovina brasileira ainda é incerta e pode demorar. A explicação é do embaixador do Japão no Brasil, Teiji Hayashi, que afirmou, em entrevista ao Correio do Estado, que a decisão de abrir o mercado do país asiático para a carne do Brasil é técnica e depende da aprovação de autoridades sanitárias que não têm subordinação a departamentos comerciais.
“Os especialistas dos Ministérios da Agricultura [do Brasil e do Japão] já estão conversando entre si, trocando informações, mas o mercado japonês ainda não está aberto para a carne brasileira”, explicou Hayashi ao Correio do Estado.
“Temos uma comissão composta por especialistas em temas sanitários, e é ela que precisa aprovar a importação de carne bovina de Mato Grosso do Sul ou de outros estados, como Santa Catarina”, comentou o embaixador.
Segundo Hayashi, o critério para a abertura de um mercado de carne bovina é rigoroso, e as autoridades japonesas avaliarão as condições sanitárias por estado brasileiro.
O principal motivo que impede a venda de carne brasileira no mercado japonês é a febre aftosa, doença da qual o Brasil – e, consequentemente, Mato Grosso do Sul – foi declarado oficialmente livre (sem vacinação), em maio deste ano.
Ainda que não haja mais aftosa no Brasil, as autoridades japonesas utilizam critérios mais rígidos para liberar seu mercado. Um deles é o período em que determinada região não registra focos da doença. Nesse aspecto, os estados do Sul do Brasil levam vantagem em relação ao restante do País. Santa Catarina, por exemplo, é livre de aftosa sem vacinação desde 2005, e o Paraná, desde 2021.
Além disso, por ser um país insular, o Japão adota critérios mais rigorosos para importar produtos de origem animal de países continentais.
“Nossos especialistas querem condições um pouco mais rigorosas que em outros países continentais, onde os animais podem passar de um lado da fronteira para outro. É por isso que estamos investigando mais as condições do Brasil, e nosso padrão é um pouco mais rigoroso que o da organização internacional. Contudo, estamos trabalhando bastante para o reconhecimento”, explicou Hayashi ao Correio do Estado.
Do lado brasileiro, a expectativa no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) é de concluir o processo de abertura do mercado de carne bovina ao Japão em novembro. A informação foi confirmada pelo chefe da pasta, Carlos Fávaro, a jornalistas na semana passada.
“Já tivemos auditorias por parte dos japoneses aqui no Brasil. Eles geraram questionamentos ao Ministério da Agricultura e ao sistema brasileiro para entender algumas dúvidas que ficaram. Isso está sendo respondido. Também há questionamentos ao setor privado. A Abiec [Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes] está fazendo suas considerações”, disse Fávaro.
PREMIUM
O Japão é considerado um dos mercados premium para a carne bovina no mundo. O país oriental paga em torno de 30% a mais pela carne do que outros países, mas exige uma alta contrapartida de qualidade, como elevado índice de marmoreio e maciez, além, claro, dos rígidos controles sanitários e de uma rastreabilidade de origem bovina completa. Não por acaso, a raça japonesa wagyu é conhecida pela alta qualidade.
O Japão é um mercado estratégico, sendo o sétimo maior importador global de carne bovina, com cerca de 700 mil toneladas ao ano – o que equivale a 57% de seu consumo interno, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Já o Itamaraty aponta uma participação ainda maior, estimando que 70% da carne consumida no país seja importada, movimentando entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões por ano. A oportunidade tem um potencial gigantesco, mas também traz à tona a necessidade de garantir um fornecimento consistente e competitivo.
FRANGO
Enquanto a liberação da carne bovina sul-mato-grossense não vem, outro produto da pecuária local ganha espaço no mercado japonês: a carne de frango. Atualmente, 18% da carne de frango de MS exportada tem a Terra do Sol Nascente como destino, conforme dados da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul).
Teiji Hayashi afirma que a Embaixada do Japão no Brasil tem feito um trabalho com o governo japonês, para regionalizar os critérios de compra da carne de frango brasileira, sobretudo para manter o mercado aberto em tempos de gripe aviária.
“Tivemos, há dois anos, casos de gripe aviária no Brasil, em Santa Catarina e no Espírito Santo e, naquela época, o Japão proibia a importação de carne de frango de todo o estado”, contou.
Agora, segundo ele, a regionalização é quase municipalizada, com o fechamento do mercado restrito apenas à origem do foco. “Como quase 30% da carne de frango consumida no Japão vem do Brasil, mudamos os critérios de proibição”.
Fonte:CE