“Deveriam fazer uma estátua dela em Bonito”, “O lugar onde ela vivia poderia virar um santuário ou algo assim”, “Por que não fazem uma estátua da Vovózona? Ela merece”, “Um animal desse porte não pode cair no esquecimento, tem que ter algo dela na cidade para as futuras gerações saberem”… Comentários como estes têm se repetido com frequência quando o assunto é Anajulia (ou Vovózona), a imensa sucuri encontrada morta em Bonito (MS) nos últimos dias.
Comovidos com o óbito do animal – segundo pesquisadores, simplesmente a maior sucuri já medida e catalogada no mundo – alguns moradores de Bonito e sul-mato-grossenses de modo geral têm elucubrado e sugerido maneiras da cidade preservar a memória e o legado da cobra, conhecida como a Rainha do Rio Formoso.
Entre as sugestões, a de uma estátua da serpente no município e a da transformação do lugar onde Vovózona vivia em um santuário de sucuris são as que mais empolgam nas redes sociais. Mas, apesar do empenho da população em propor homenagens, a Prefeitura de Bonito esclarece para reportagem que ainda não há nenhum projeto do tipo sendo estudado.
“Sobre a estátua, ainda não temos nenhum projeto desenvolvido neste sentido, mas é algo que será analisado pelo nosso diretor de Cultura”, afirma o município. Já sobre um possível santuário de sucuris, a Prefeitura declara que “poderíamos dizer que Bonito, por si só, já pode ser considerado um santuário para estes animais, pelas condições favoráveis do nosso ecossistema, que já é preservado por conta do turismo”.
“A gente não trabalha para o individual”, diz secretário
Segundo Thyago Sabino, secretário de Meio Ambiente de Bonito, o município não trabalha apenas para que Anajulia não seja esquecida, mas para que todas as sucuris da área vivam bem.
“Bonito é uma região de ambiente equilibrado, onde animais de grande porte, como a sucuri Anajulia habitam as redondezas. Nosso principal papel é manter o lugar adequado para que várias ‘Anajulias’ possam viver saudavelmente ali. Que possam chegar ao tamanho que Anajulia chegou e possam ter uma vida segura e sadia no ambiente em que elas vivem. A gente não trabalha para o individual, mas sim para o todo”, explica o secretário.
Opiniões
Para Vilmar Teixeira, o guia e monitor ambiental que era considerado uma espécie de guardião de Vovózona em Bonito, as sugestões dos sul-mato-grossenses são “boas ideias”. “A Vovózona é um exemplo de preservação, mostrando que nossa cidade e a população estão atentas ao que aconteceu. Não só com a sucuri e sim com a natureza em todos os aspectos”, declara ele para reportagem.
Gustavo Figueirôa, um dos biólogos que engajaram a causa de Anajulia nas redes sociais, também avalia as sugestões de maneira positiva.
“Eu acho muito bacana a ideia da transformação de uma unidade de conservação. Quando falamos em santuário, queremos dizer uma unidade de conservação, uma área protegida, seja ela pública ou privada. Mas acho muito bacana fazer um santuário sim, uma homenagem à Anajulia, um bicho tão icônico que chamou tanto a atenção para Bonito”, declara Figueirôa.
Improvável imaginar comoção pela morte de uma sucuri, diz especialista
Daniel De Granville, biólogo especialista em sucuris-verdes que conviveu com Anajulia por anos em MS, aprova as homenagens e ainda acrescenta. “Considero a ideia muito válida. Independente da causa da morte dela, a comoção mundial que o fato causou foi surpreendente. Há algumas décadas, seria muito improvável imaginar que as pessoas iriam ficar tristes e se sensibilizar com a morte de um ‘monstro comedor de gente’, como as sucuris apareciam no imaginário popular”, pontua em conversa com a reportagem.
“Uma das melhores maneiras de estimular as pessoas a se empenharem na conservação ambiental é criando conexões entre elas e os demais seres vivos. Esta sucuri, que ganhou até nome de gente, pode se tornar um símbolo da importância de exigirmos mais atenção e respeito com nosso patrimônio natural, beneficiando o bem-estar humano e a economia local”, finaliza De Granville.
Corpo não será mais exposto
Inicialmente, a PMA (Polícia Militar Ambiental) informou que a cobra passaria por taxidermia para ficar exposta em seu acervo em Campo Grande (MS). Porém, o avançado estado de decomposição do corpo impede que isso ocorra.
Só a perícia vai precisar a data da morte de Anajulia, mas é provável que ela tenha morrido de causas naturais, entre os dias 23 e 24 de março.
Seu corpo já estava em avançado estado de decomposição, inclusive com moscas e larvas, quando foi encontrado. Por isso, apenas pedaços da carcaça de 6,5 metros foram coletados para análise e o resto foi descartado no rio Formoso.
Fonte:MM