Uma pesquisa publicada na revista Nature na última quarta-feira (27) sugere que os últimos 12 mil anos na Terra têm sido mais frios do que se pensava e que o aquecimento global causado por humanos é uma anomalia maior que a projetada por estudos anteriores.
De acordo com os cientistas responsáveis pela teoria, uma nova maneira de se analisar temperaturas históricas possibilitou a identificação de mudanças somente sazonais que, até então, caracterizavam os últimos milênios como mais quentes do que realmente foram.
A metodologia, afirmam, oferece o que pode ser a solução de um mistério a respeito dos recentes fenômenos climáticos no planeta, o chamado enigma do aquecimento do Holoceno, cujas reconstruções revelam um período quente de 6 mil a 10 mil anos atrás, seguido de resfriamento e, então, de um aumento de temperatura contínuo.
Este argumento é utilizado por céticos, de que a natureza segue seu caminho independentemente da ação de seus habitantes. Entretanto, isso parece não ter ocorrido de fato.
Samantha Bova, pesquisadora de paleoclima da Rutgers University e uma das autoras do estudo, explica que a interpretação das novas evidências exibe um caminho altamente consistente de elevação de temperatura com o previsto por modelos climáticos, refutando aqueles que discordam deles.
Entender a História por essa perspectiva, complementa, mostra que o que temos testemunhado nos últimos 150 anos está nos levando a um cenário mais quente que em qualquer momento posterior à última vez em que geleiras cobriram várias partes do mundo.
Terra realmente começou a esquentar há 6 mil anos, mas não como se pensava.
O que muda, afinal?
Bova explica que o aquecimento iniciado há 6 mil anos não está equivocado, mas que as maiores elevações se restringiram à temperatura somente no verão do Hemisfério Norte, não no ano todo e em todas as partes, o que impede comparações diretas com modelos que têm como parâmetros 12 meses juntos e que contemplam regiões mais amplas.
A pesquisadora salienta que a trajetória mais oval do planeta tornava as estações mais marcadas, oferecendo o dobro da luz nos trópicos do que a vista hoje, e esse seria o fator primordial na redução das camadas de gelo. Ainda segundo ela, a concentração de gases de efeito estufa aumentou, de fato, a partir dessa época, mas emissões modernas tornam a escalada antes da Revolução Industrial mínima – 20 partes por milhão entre 4000 a.C. e 1850 d.C contra 100 partes por milhão desde 1950 até hoje.
Caso se pergunte como tudo continuou “mais frio” mesmo com a mudança sutil, bem, é essa a resposta à qual a equipe queria chegar quando decidiu coletar, em 2016, núcleos de sedimentos do fundo do mar, abrangendo centenas de milhares de anos de história do clima.
Depois de se concentrarem nas camadas do último período interglacial, de 128 mil a 115 mil anos atrás, descobriram que a última onda de calor foi climatologicamente mais simples. “Ao contrário do Holoceno, os gases do efeito estufa são praticamente estáveis nesse período” conta Samantha, momento em que, devido à radiação acentuada, os mantos de gelo recuaram rapidamente, perdendo a força que tinham sobre o clima global e deixando o caminho “livre” para os gases já presentes.
O aquecimento dos oceanos também foi levado em conta, já que, com menos gelo, mais luz era absorvida, e isso exibiu um padrão constante de elevação de temperatura, nada súbito. “Podemos atribuir as mudanças que vemos em nossos registros somente à radiação solar recebida”, defende.
Ou seja, a Terra não estaria mais quente, por exemplo, na primavera ou no inverno, ao contrário do que ocorre hoje, aponta o estudo. Causas físicas atuais confirmariam as últimas tendências.
Redução das calotas polares ocorreu por maior incidência de radiação solar, mas concentração de gases acelerou aquecimento.
Bova ressalta que, no início, o aquecimento ao longo do Holoceno foi impulsionado pelo lento recuo das camadas de gelo. Então, há cerca de 6 mil anos, o aumento das concentrações de gases de efeito estufa levou a um aquecimento ainda maior – mas nada comparado à época em que vivemos.
Mesmo reconhecendo que outras teorias concorrem com a sua no objetivo de explicar a discrepância entre modelos e dados climáticos anteriores, ela se convence de que esta é uma resolução para a interpretação de informações adjacentes.
“Foi sugerido antes que esses registros podem ser sazonais, mas nunca houve uma maneira contundente de provar isso”, diz a pesquisadora. Agora, pelo visto, há.
Fonte:TecMundo